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PRÁTICA CLÍNICA 5
A artrite reumatoide (AR) é a
doença articular inflamatória
crónica mais frequente e mais
incapacitante. Recentemente,
o estudo epidemiológico das
doenças reumáticas em Portugal,
EpiReumaPt, mostrou que a
prevalência desta doença é de
0,7% - 1,1% nas mulheres e 0,3%
nos homens – ou seja, que existem
mais de 63 mil doentes com AR
em Portugal. No mesmo estudo,
esta doença associou-se a maior
incapacidade e a perda da qualidade
de vida, quer comparada com a
população portuguesa, quer por
comparação com doentes com
outras doenças reumáticas. Traduz-
se também em aumento das
comorbilidades e da mortalidade.
Nos últimos anos, registaram-
se avanços importantes no
diagnóstico e sobretudo na
terapêutica destes doentes.
Surgiram novos anticorpos como
os antipeptidos citrulinados (ACPA
ou antiCCP), mais específicos desta
patologia, a ecografia articular com
doppler, que permite determinar
de forma simples e não invasiva a
existência de sinovite subclínica, e
a ressonância magnética, utilizada
em casos selecionados.
O maior conhecimento das vias
fisiopatológicas da doença permitiu
a identificação de novos alvos
terapêuticos e o desenvolvimento
de moléculas dirigidas. O fator de
necrose tumoral (TNF), interleucina
(IL) 1, IL6, IL17, IL12/23, moléculas
intracelulares sinalizadoras,
células B e proteínas importantes
na apresentação do antigénio,
têm-se revelado fundamentais
O panorama nacional
na artrite reumatoide
e perspetivas futuras
Helena Canhão
na fisiopatologia da AR. Existem também a associação combinada incapacidade (HAQ médio de 0,98)
neste momento, já disponíveis de fármacos sintéticos). e diminuição da qualidade de vida
no mercado, fármacos que A eficácia dos fármacos disponíveis (EQ5D médio de 0,57). De notar
funcionam como antagonistas ou torna ainda mais crucial a que apenas 43% dos doentes
bloqueadores destas moléculas relevância de um diagnóstico estava a ser seguido por um
ou da sua função e que se têm precoce e de um tratamento reumatologista e 38% dos casos
revelado muito úteis no controlo da adequado, iniciado no mais foram diagnosticados de novo,
inflamação, paragem de progressão curto espaço de tempo. Assim, durante o estudo. Este facto revela
da lesão estrutural, melhoria da a referenciação e o seguimento o subdiagnóstico de AR existente
função e da qualidade de vida. destes doentes por especialistas no nosso país.
Ao mesmo tempo que surgiram em reumatologia é essencial. No A perspetiva é que no futuro o
estes novos medicamentos, mesmo inquérito – EpiReumaPt –, panorama do subdiagnóstico e mau
aumentou o conhecimento e realizado a 10.661 indivíduos no prognóstico destes doentes vai
a otimização da utilização dos continente e ilhas da Madeira e melhorar. Não restam dúvidas que
fármacos sintéticos já existentes, dos Açores, verificámos que uma cada vez teremos melhores armas
quer através do aumento da dose parte importante dos doentes para o diagnóstico e tratamento
do metotrexato (que é o fármaco reumatoides apresenta atividade destes doentes. Com a atualização
âncora no tratamento da AR), da doença (DAS28 médio de 4,07), da rede de referenciação hospitalar
quer através de um bom uso da com uma média de 7,3 articulações de reumatologia, esperamos
associação de fármacos (não dolorosas e 4,2 articulações ter no futuro um maior número
só sintéticos e biológicos, mas tumefactas, apresentando também e uma melhor distribuição dos
reumatologistas no território
EpiReumaPt nacional, de maneira a que estes
especialistas possam chegar a
O Prof. Doutor Jaime Branco e a Prof.ª Doutora Helena Canhão foram todos os doentes reumatoides,
os coordenadores do primeiro estudo epidemiológico nacional de larga aumentando a taxa de diagnóstico
escala sobre as doenças reumáticas (DR). Ao longo de 27 meses de e o sucesso da terapêutica,
trabalho no terreno, 190 entrevistadores recrutaram 10.661 portugueses contribuindo para o bem-estar dos
em 366 localidades do país – incluindo as regiões autónomas da doentes reumáticos em geral e dos
Madeira e dos Açores – com o objetivo de conhecer a prevalência reumatoides em particular.
correta das DR em Portugal. Apresentadas a 22 de setembro de 2014,
as principais conclusões do EpiReumaPt: Helena Canhão
• A prevalência da DR é de 56%; Reumatologista do
• 22% já se encontravam diagnosticadas antes da realização do estudo; Hospital de Santa
• a lombalgia é a DR com maior prevalência: 26,4%; Maria, professora
• os doentes com artrite reumatoide (AR) referem pior qualidade de vida; na Faculdade de
• os doentes reumáticos são os doentes crónicos que reportam pior Medicina de Lisboa
e co-investigadora
qualidade de vida; EpiReuma
• os doentes reumáticos têm mais internamentos hospitalares – 11,3%
revelou ter estado internado nos últimos 12 meses, face a 5,50% de
indivíduos sem DR.
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