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A Solidez de apresentar
uma Proposta para o Futuro

Fernando Leal da Costa                             Autor

Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde

“…built with expensively borrowed                  escritores, gestores e administradores, es-     e refém de uma incapacidade negocial do
      money, back in the carefree days of          pecialistas e coristas, não houve uma alma      Estado para com os fornecedores, indústria
      New Labour.”                                 com uma ideia que ainda não tivesse já sido     farmacêutica em especial - lembremo-nos
        Ian McEwan, The Children Act, 2014         produzida ou realizada por este Governo?        das ameaças de cortes de fornecimentos
                                                   O maior arrojo são as 100 novas USF em 4        que a Roche, num momento muito infeliz,
Os dias do dinheiro fácil, os dias em que pa-      anos quando, em apenas 3 anos, já tínhamos      protagonizou. Descobrimos cerca de 3,7
gar dívidas seria “ideia de crianças” acaba-       promovido a abertura de 117. Pouco, mui-        mil milhões de Euros de dívidas que só vie-
ram de forma ruinosa. Será que a oposição          to pouco mesmo. O Governo em funções            ram a tornar-se patentes ao longo dos me-
nacional pretende voltar a este estado de          apresenta serviço, muito serviço e muita        ses seguintes a termos iniciado funções.
coisas? A extrema-esquerda, PCP incluído,          obra, e o putativo pretendente à sucessão       Do ponto de vista político, ao longo de qua-
defende posições anacrónicas e insustentá-         deveria apresentar novidades e alternativas.    se todos estes últimos quatro anos, houve
veis. O PS, entalado entre tentar ser social-      Onde estão elas?                                sempre uma enorme incapacidade de aju-
democrata ou marxista de última geração,           Contudo, a contenção nas promessas abre         dar por parte dos partidos da oposição.
tarda em definir-se.                               a possibilidade de que, num futuro próxi-       O exemplo mais claro desta posição foi
Começaram todos com a tese do “desman-             mo, a ala sensata e verdadeiramente so-         o branqueamento que encetaram da sua
telamento” do SNS – a tese da esquerda             cial-democrata do PS possa contribuir para      responsabilidade sobre o Memorando de
empedernida – para terem de constatar              a manutenção tácita do acordo de regime,        Entendimento com a “Tróika” (FMI, BCE e
que, afinal, o SNS está aí para durar. Dói-        nunca escrito mas sempre em vigor, que          Comissão) e o discurso de que foi tudo fei-
lhes que a Saúde dos Portugueses tenha             tem permitido o sucesso dos 35 anos de          to, apesar de bem feito, “para lá da Tróika”.
estado a melhorar continuada e ininterrup-         SNS. Depois do Governo ter recuperado           A verdade é que, com todas as dificuldades
tamente nos últimos quatro anos, coisa que         as bases de sustentabilidade técnica e finan-   que já enumerei, foram tomadas medidas e
não se imaginava possível no estado em que         ceira do SNS há razões para acreditar que       conseguidos resultados que merecem ser
o Governo do PS a deixou e, como lhes dói,         existirão acordos políticos com dimensão e      reconhecidos:
persistem em fugir da verdade, refugiados          qualidade suficiente para que grande parte      1.	 Introduzimos 23 novos medicamentos
em análises parciais e incompletas que exi-        das propostas, que a seguir elencarei, se
bem como grandes evidências do descala-            possam concretizar.                                 inovadores para uso hospitalar e foram
bro que se deveria ter instalado mas, sim-         Chegados ao Governo, em junho de 2011,              atribuídas comparticipações a mais 22
plesmente, não aconteceu.                          encontrámos um sistema de saúde com                 medicamentos de uso ambulatório.
Como lhes falhou o “desmantelamento”, já           potencialidades mas demasiadamente endi-        2.	 Os medicamentos estão mais baratos
não sendo possível apostar na reconstru-           vidado, sob a pressão de uma carga exage-           em cerca de 27% para o público e os
ção Pombalina de um SNS devastado, os              rada de doença na população, ou seja, com           genéricos estão 53% mais baratos.
socialistas optaram por seguir a via “criati-      envelhecimento pouco saudável. A força de           Com tudo isto, a dispensa de medica-
va” da revisitação do passado. Com tanto           trabalho estava desmotivada, já sujeita a cor-      mentos em ambulatório aumentou.
comício, grupo de trabalho, sessão expli-          tes salariais que tivemos de aprofundar nas     3.	 Pela primeira vez assistiu-se a dimi-
cativa, reunião noturna, passeio diurno,           horas extraordinárias, e com concursos de           nuição da despesa, sem diminuição de
reflexão, laboratório, gabinete, retiro, eu        progressão de carreira bloqueados. O sis-           consumo, de medicamentos hospita-
sei lá, peritos, curiosos, amadores, cama-         tema de saúde estava também sob pressão             lares, como o aumento das sessões
radas, pensadores, filósofos e professores,        de custos galopantes de novas tecnologias           de hospital de dia em Oncologia tem
                                                                                                       demonstrado.

6 Revista Portuguesa de Gestão & Saúde • n.º 16 • julho 2015
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