O protocolo permite que determinadas operações (tiroide, hérnia abdominal e vesícula) a doentes do Hospital Garcia de Orta possam ser feitas no Hospital de Santa Maria ou no Hospital Pulido Valente (do CHLN), baixando em 100 dias as listas de espera, disse à Lusa o presidente do Conselho de Administração do Garcia de Orta.
“Esperamos chegar aos 150 dias”, disse Daniel Ferro à Agência Lusa após a assinatura do protocolo, esclarecendo que a média atual é superior a 200 dias. O protocolo vai permitir “retirar 1.300 doentes das listas de espera” e entra em funcionamento já este verão.
“Houve nos últimos tempos um recrutamento de anestesistas desta casa que enfraqueceu o corpo clínico, e a maneira de complementarmos a resposta à população é não só aprofundar aqui, sobretudo em tempo extra, a atividade cirúrgica, como também pedir ajuda ao CHLN, que nos vai aumentar mais essa resposta”, explicou.
O tempo médio de espera para uma cirurgia tem vindo a “degradar-se” desde 2003 e nos últimos anos os anestesistas foram “reduzidos a metade”, disse.
A cerimónia de assinatura do documento foi presidida pelo ministro da Saúde, que à Lusa salientou o facto de ser uma cooperação que vai resultar em 1.200 cirurgias adicionais para os doentes do Garcia de Orta, no espaço de um ano.
Paulo Macedo congratulou-se por as duas entidades terem chegado a um entendimento para “um resultado muito concreto na vida de um conjunto significativo de portugueses” e acrescentou que é um modelo que “pode e que já está a ser replicado”.
O CHLN fez recentemente acordos de cooperação com o Centro Hospitalar do Oeste e com o Hospital do Litoral Alentejano, como o Hospital Universitário de Coimbra fez protocolos com os hospitais de Aveiro e Guarda, lembrou Paulo Macedo, acrescentando que é um tipo de cooperação a que se junta o programa de “cirurgia adicional” e que serve para “recuperar um número significativo de cirurgias e reduzir as listas de espera”.
O protocolo hoje assinado, garantiu à Lusa o presidente do Conselho de Administração do CHLN, Carlos Martins, não vai “em nenhuma circunstância” aumentar a lista ou os tempos de espera dos hospitais envolvidos da capital.
“Em nenhuma circunstância há aumento de tempo, ou de listas de espera, ou aumento de custos. Estamos é a gerir os nossos recursos humanos, a nossa tecnologia e a as nossas instalações da melhor forma possível, ao serviço do Serviço Nacional de Saúde e rentabilizando os recursos globais”, salientou.
Carlos Martins explicou que o protocolo contém um anexo onde se definem os tipos de operações que podem ser feitas e disse que esse anexo pode ser modificado em função das disponibilidades.
Para já são três as patologias contempladas e os doentes vão ser operados seja em cirurgia programada seja em cirurgia de ambulatório, num dos dois hospitais e com profissionais do CHLN, de acordo com as disponibilidades físicas e de equipas.
Câmara de Almada lamenta "perda de capacidade" do hospital Garcia de Orta
A Câmara Municipal de Almada emitiu um comunicado no qual aborda o protocolo estabelecido entre o hospital Garcia de Orta e o Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN), no qual refere que existe uma "perda de capacidade" daquele Hospital, salientando que há um desinvestimento nos cuidados de saúde em toda a Península de Setúbal.
"A Câmara Municipal de Almada não pode, no entanto, deixar de expressar, uma vez mais, o seu profundo lamento, pelo facto desta situação ser consequência de uma política que teima em apostar no desinvestimento continuado nos serviços públicos de prestação de cuidados de saúde, em Almada e em toda a Península de Setúbal", refere a autarquia em comunicado.
A Câmara, liderada por Joaquim Judas (PCP), refere que existe uma "perda de capacidade de resposta" do Hospital Garcia de Orta em várias valências.
"Abdicaram da existência de uma urgência polivalente na Península de Setúbal, realidade que afeta muito negativamente a qualidade dos serviços de saúde prestados às populações da margem sul do rio Tejo", salienta.
O documento refere ainda que a cooperação entre o Hospital Garcia de Orta e a Centro Hospitalar Lisboa Norte sublinha também a necessidade de construção de um novo hospital no concelho do Seixal, “há muito reivindicado”.
"Continua a constituir uma prioridade absoluta, tendo em vista a melhoria da capacidade de resposta e da qualidade dos serviços de cuidados de saúde prestados às populações", concluiu.
A atual política na área da saúde “é desde há muito denunciada pelos utentes, pelas suas associações e pelas autarquias locais”, reforçou a Câmara de Almada.
Ainda em comunicado, o município de Almada reiterou que “em primeiro lugar, deve ser colocada, obviamente, a saúde dos cidadãos e a sua recuperação das situações de doença, não colocando em causa a bondade da cooperação entre hospitais”.
A Câmara de Almada lamentou o facto de esta situação ser consequência de “uma política que teima em apostar no desinvestimento continuado nos serviços públicos de prestação de cuidados de saúde, em Almada e em toda a Península de Setúbal”.