Leia a crónica da ediçaõ 136 do Jornal Médico, com a habitual colaboração de Rui Cernadas, especialista em Medicina Geral e Familiar (MGF), acerca do SNS.
Pobreza e exclusão!
A um primeiro olhar, a forma mais fácil e chocante de identificar a pobreza parece ser a falta ou carência de bens materiais.
Isto é, a pobreza é definida com referência a níveis e condições de vida.
Assim são muitos ainda os que privilegiam o suprimento de necessidades básicas e materiais.
O que é louvável e certamente bem-sucedido mas que não resolve em definitivo nenhuma questão de fundo.
Uma outra forma de análise e de perspectiva é perceber e atribuir importância ao que designaria de vectores fundamentais para uma estratégia consistente de abordar e resolver a pobreza.
Penso nas habilitações e competências literárias, técnicas, desportivas, artísticas ou profissionais que permitirão o acesso dos indivíduos ao mercado de trabalho, ao emprego, à utilidade e inserção sociais.
E que certamente gerarão a capacidade para que aqueles encontrem as condições mínimas ideias que os autonomizem e granjeiem o respeito colectivo.
No entanto, a diferença simplista nesta curtíssima reflexão faria uma enorme e sensível diferença. A satisfação e atendimento das necessidades passaria a ser entendida como um meio e não como o objectivo final, circunstância e conceito que, nos termos do Estado Social em que vivemos, ajudaria a prazo uma outra "sustentabilidade" e uma mais justa e efectiva inserção e combate à exclusão.
O problema da falta de recursos, no Estado ou em qualquer sociedade, só poderá ser resolvido quando a pessoa os logra obter através de uma fonte ou mecanismo normal.
Mas o país não compreendeu nesta altura que a dispensa de um Rendimento Social de Inserção ou de outra designação similar, por exemplo, representa apenas a consagração de uma situação de dependência de meios extraordinários.
O que nunca irá solucionar o drama da pobreza.
Consequentemente, e justamente porque a pobreza implica falta de recursos, representa a manutenção de formas de exclusão social.
De custo e não de investimento.
E foi por isto mesmo que não pude deixar de pensar no SNS!
Por ser profissional de saúde e por ser cidadão.
O SNS com que os políticos enchem a boca como se tivessem respeito por este serviço público, o SNS com que as Esquerdas agitam bandeiras esfarrapadas das trincheiras em que se enterraram vendo o Mundo passar por cima das suas cabeças, o SNS que os Ministros das Finanças passaram a governar marimbando-se para os Ministros da Saúde e doravante para o “CEO do SNS”, é o novo pobre e excluído social!
Afirmei e defendi atrás que, a questão e a dimensão da falta de recursos, no Estado ou em qualquer serviço público, só poderá ser resolvido quando se os logra e procura obter através de uma fonte ou mecanismo normal de financiamento e receita.
Não há no SNS um plano de investimento ajustado e plurianual.
As respostas são meramente reactivas e em corrida atrás do “prejuízo”. As listas de espera crescem, os erros e as reclamações também. As instalações estão em muitos casos obsoletas e desadequadas às exigências e contemporaneidade. Os equipamentos são o que são. Os recursos humanos estão mal organizados e não há política de recrutamento que assegure as necessárias substituições de quem abandona o Estado, seja por doença, reforma ou morte, ou porque não se sente correspondido na sua dedicação ou trabalho.
E é justamente porque a pobreza implica falta de recursos que representa a manutenção de formas de exclusão social.
O SNS é assim o último pobre a caminho da exclusão social…
A atual pressão que se coloca nos Cuidados de Saúde Primários (CSP) em Portugal é um presente envenenado para os seus utentes e profissionais de saúde.