Rui Cernadas: a discussão de sempre: “mais médicos do que nunca!”
DATA
07/04/2015 18:50:43
AUTOR
Jornal Médico
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Rui Cernadas: a discussão de sempre: “mais médicos do que nunca!”

[caption id="attachment_11851" align="alignnone" width="300"]CernadasRui1 Rui Cernadas - Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.[/caption]

Portugal consome em cuidados de saúde qualquer coisa acima dos 10% da totalidade da riqueza produzida.

Este ano, como todos os anos – e houve muitos anos em que todos os dados registados provam que foi muito pior, pese o esquecimento ou o mediatismo forçado – a gripe e o Inverno causaram estragos e preocupação.

Nos últimos meses ouvimos e lemos declarações sobre a necessidade de se reforçarem as urgências mais diferenciadas do país para… Atender gripes, como se o processo clínico assistencial de doentes com infecções gripais se devesse concentrar em urgências hospitalares! Como também ouvi gritos de quem exigia que os cuidados primários alargassem os horários para que os utentes pudessem beneficiar do atendimento correspondente.

A realidade é o que é.

E os números, mesmo para quem não gosta deles, contam duramente.

O país e o seu SNS têm quase 80% dos seus profissionais a exercer actividade nos hospitais portugueses!

Exactamente 78%!

E os cuidados primários têm 22% do total dos profissionais do SNS.

Apenas, diria eu.

Tudo isto fruto de uma notável e evidente melhoria que o país precisa de conhecer e que se traduz no facto de nos hospitais trabalharem já mais de 21.000 médicos, o maior número de sempre. E que os médicos de família são, nesta altura, mais de 6.000, de Norte a Sul do País, no que também constitui o mais numeroso contingente de sempre!

O que é impressionante, tendo em consideração o facto de ter havido centenas de aposentações antecipadas ou de decisões voluntárias de abandono dos serviços públicos.

Mas há mais números. Por exemplo o de consultas médicas, que poderia servir de indicador, mais que não fosse, para obrigar muita gente, boa e importante, a reflectir antes de falar. Em 2014, foram realizadas cerca de 25 milhões de consultas nos Cuidados Primários e cerca de 15 milhões de atendimentos nos Hospitais…

Dados interessantes cujo significado, numa perspectiva de melhoria da literacia em saúde e de contensão dos discursos seria importante avaliar, revelando o seu real significado.

Por exemplo, que os tais 25 milhões de consultas dos médicos de família associam-se a um dado espectacular: 6,6 milhões de cidadãos tiveram em 2014 pelo menos uma consulta nos seus centros de saúde.

E que dos 15 milhões de consultas hospitalares, cerca de um terço (mais de 5 milhões) foram idas às urgências…

Ou que quase um quinto do total dos atendimentos hospitalares em 2014 foram primeiras consultas…

É claro que, apesar de muitos dos indicadores de saúde relevantes poderem ser comparados com os melhores alcançados além-fronteiras, todos temos a consciência de que subsistem problemas na organização do SNS, seja porque há naturais constrangimentos de capacidade financeira do país, seja porque ao nível organizacional e dos serviços se mantêm lacunas consideráveis de ineficiência.

Neste contexto, as soluções ou propostas para o SNS deveriam constituir exigência simultânea de previsão dos efeitos e consequências relativamente aos indicadores de saúde e aos ganhos em saúde.

A comunicação dos temas da saúde não é fácil e acarreta riscos assinaláveis.

Mas urge torná-la eficiente, responsável e pedagógica.

Se os noticiários e as televisões, no Verão, acicatam os incendiários florestais, como dizem os psicólogos, é provável que meios idênticos possam ter alguma influência sobre os hipocondríacos.

E no entanto o que poderíamos desejar era muito simples.

Que o dinheiro dos contribuintes pudesse ser bem aplicado e gerido; que se atingissem níveis de mais elevada qualidade na actividade clínica e que a eficiência dos serviços pudesse, por si só, garantir a redução dos custos… E que os cidadãos pudessem estar bem informados e tranquilos, confiantes no SNS, que tem nos seus profissionais a primeira linha dos seus guardiões.

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SNS: para quando uma mudança win-win?
Editorial | Inês Rosendo, Direção da APMGF
SNS: para quando uma mudança win-win?

Não podemos ser indiferentes ao descontentamento dos médicos nos tempos que correm, nunca vi tantos médicos a dizerem pensar sair ou desistir do que construíram. Desde médicos de família que pensam acabar com as suas USF, por não verem vantagem em continuarem a trabalhar no sentido da melhoria contínua (e até sentirem que os desfavorece) até médicos hospitalares a querer deixar de ser diretores de serviço, sair do sistema público e/ou, até, reformar-se antecipadamente. Tudo o que foi construído parece à beira de, rapidamente, acabar.

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