[caption id="attachment_11851" align="alignnone" width="300"] Rui Cernadas - Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.[/caption]
A gravidade dos temas depressão e suicídio justificariam, em qualquer situação ou momento, alguns minutos de reflexão e de atenção neste jornal.
Depois de se ter discutido ou aludido à eventual correlação entre o aparente aumento do diagnóstico de depressão e a crise social e financeira que os países do sul da Europa têm vivido, os casos trágicos relatados, por exemplo, em França, com trabalhadores da “França Telecom” para os quais o suicídio terá surgido como única saída no confronto com uma dispensa forçada, o assunto ganhou importância acrescida.
Ganhou importância porque os meios de comunicação social “agarraram” o drama que estes casos traduzem que ganhou ainda mais visibilidade com um conjunto de estudos e análises, de caso e de casuística, os quais vieram, naturalmente e como sempre na investigação, trazer algumas respostas e levantar novos problemas.
As pessoas, os indivíduos são, antes de mais, seres vivos, todos iguais e todos diferentes, sendo que o modo como reagem à pressão e ao stress, ou aos problemas e vicissitudes da vida – emprego, finanças, dependências, trabalho ou família – pode assumir respostas diferenciadas.
Por exemplo, o desemprego – no caso francês recordado – sobretudo em circunstâncias que coloquem o indivíduo “contra a parede” e no sentido em que resulte duma espécie de maquiavélica selecção e não no contexto dum procedimento global e inevitavelmente generalizado é deveras demolidor em termos psicológicos.
Como o divórcio ou o luto, de um filho em particular, pode representar uma situação extraordinariamente relevante para o equilíbrio e estabilidade psíquicas.
É por isso tudo que, numa visão holística da Medicina, o papel e função dos cuidados de saúde primários se torna cada vez mais inquestionável.
Não é nosso propósito obviamente uma abordagem científica nesta altura.
Tendo ainda assim presente a conveniência de sermos claros quando falamos em saúde mental ou em psiquiatria, uma vez que defendo a distinção entre essas duas áreas… E sem escamotear a necessidade de alargar e complementar as respostas clínicas e integradas dos cuidados primários com outros profissionais, nomeadamente no âmbito das unidades de recursos assistenciais partilhados (URAP).
Há ainda que pensar com alguma racionalidade no modo como em Portugal estamos a usar os medicamentos antidepressivos… Não tanto pelo facto de podermos estar a recorrer excessivamente à medicalização dos sintomas ou da tradução sintomática, ou até mesmo por força de um incremento da prescrição de fármacos anti-depressivos e/ou sedativos ou hipnóticos.
Na verdade, há sinais de que se poderá estar a verificar por toda a Europa e Estados Unidos, uma evolução do aumento da tendência de utilização dos anti-depressivos em pessoas mais jovens, abaixo dos 25 anos de idade.
Ora o que se sabe é que o risco de suicídio parece estar associado ao consumo de medicamentos antidepressivos, em especial, antes dos 25 anos. Este efeito, documentado e publicado, será mais susceptível entre os doentes medicados com os inibidores selectivos da recaptação de serotonina.
Poderíamos igualmente lembrar que os efeitos iatrogénicos das terapêuticas e sobretudo em quadros de polimedicação ou de comorbilidades constituem uma causa significativa de internamento hospitalar em toda a Europa.
Enfim, estamos a começar ainda um novo ano e num período sazonal em que a depressão adquire maior expressão.
É pois tempo de deixar este pequeno alerta.
Com votos de boa saúde.
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Não podemos ser indiferentes ao descontentamento dos médicos nos tempos que correm, nunca vi tantos médicos a dizerem pensar sair ou desistir do que construíram. Desde médicos de família que pensam acabar com as suas USF, por não verem vantagem em continuarem a trabalhar no sentido da melhoria contínua (e até sentirem que os desfavorece) até médicos hospitalares a querer deixar de ser diretores de serviço, sair do sistema público e/ou, até, reformar-se antecipadamente. Tudo o que foi construído parece à beira de, rapidamente, acabar.