[caption id="attachment_11851" align="alignnone" width="300"] Rui Cernadas - Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.[/caption]
O país pode passar pelo que tiver que passar.
A História já o gravou e provou que, em muitas situações e séculos, quando a esperança parecia perdida, os portugueses souberam tomar nas suas mãos o destino e decidir o rumo que o seu esforço e o seu sacrifício justificavam.
Grandes figuras ganharam o seu lugar no tempo e na memória colectiva pela raça e pela honra com que se empenharam na defesa do bem comum e da liberdade nacionais.
Mas tudo isso, para além da sorte, do trabalho, da audácia ou da fé, exige saúde. E a saúde tem múltiplas, diria mesmo milhentas, definições, outras tantas formas de a sentir – ou não sentir – colocando o foco em alguma subjectividade e, essencialmente, na individualidade: cada um sente por si e sofre como ninguém…
Não há ainda sistemas padronizados que meçam ou pesem a dor e o sofrimento, enquanto sentimentos expressos ou denunciados, o que, traduzindo uma realidade que nos assusta e limita, me deixa ainda assim satisfeito uma vez que traduz o facto de que a Medicina há-de ser sempre uma arte, para além de uma ciência, longe do rigor numérico que se sabe subjacente às máquinas informáticas ou aos procedimentos de gestão meramente económica…
Chegados aqui, importa acentuar que quando se fala da saúde e da sua gestão, na vertente da dispensa de cuidados, devemos ser tecnicamente honestos e precisos nas intenções.
Em 2014, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) atingiu os 35 anos de vida, tendo sido celebrados como a mais fantástica conquista do pós-25 de Abril!
Mas com 35 anos de vida, não pode o SNS ser condenado à fatalidade, qual sentença inapelável, de não poder mudar, nem evoluir.
Na verdade, precisa de mudar e de evoluir, não só para sobreviver, como para poder contribuir para uma elevação do nível de cuidados prestados aos cidadãos e contribuintes portugueses, como ainda para assegurar respostas com qualidade científica, equidade e continuidade.
As populações, os partidos políticos e as autarquias precisam de se informar, de se esclarecer e de compreender o que é proposto, tantas vezes, no âmbito do SNS, em matérias de reorganização das respostas ou das necessidades entretanto avaliadas.
As populações também mudam, pela desertificação, pelo envelhecimento, pelas condições ambientais, pelas alterações do emprego, pelas acessibilidades, pelos recursos financeiros, pelas estruturas físicas, pela acção dos municípios nos planos do saneamento, da distribuição da água e pela recolha dos lixos…
A concentração de pequenas unidades de cuidados primários não resulta de teimosias ou de poupanças de recursos financeiros ou economicismos.
Favorece as populações porque aglutina e associa profissionais que alargam competências e experiências, activam novas valências, permitem horários mais dilatados de funcionamento e resposta assistencial, asseguram os princípios da intersubstituição e garantem dimensão.
E não têm qualquer expressão monetária comparativamente ao que se gasta num qualquer serviço de um pequeno centro hospitalar.
Aliás, o que se gasta em Portugal nos CSP não é minimamente comparável com o que se gasta nos Hospitais!
E seria muito bom, indispensável e precioso, que essa avaliação entre o custo ou investimento e os resultados ou ganhos em saúde fosse realizada e publicitada.
Até para se perceber se a Organização Mundial de Saúde está mesmo errada, quando sustenta que o investimento deveria ser o inverso: mais nos CSP, menos nos secundários.
Quando os direitos são apenas armas de arremesso
As populações têm direito ao transporte, sendo este um argumento sempre invocado por todos os que contestam qualquer realinhamento na rede assistencial. Todavia, quando analisamos a realidade, verificamos que essa questão, que deveria ser o principal pólo aglutinador de entendimentos entre comunidades e autarquias, na procura de soluções reais de transporte entre as povoações, serve apenas de arma de arremesso contra o Ministério da Saúde.
É tempo de explicar aos portugueses que quando se fecha uma extensão ou um hospital encerra um serviço em alguma parte há, naturalmente, prejuízo para as pessoas. Mas um prejuízo apenas aparente… Que pode e deve representar vantagens em termos de eficiência do SNS. Vantagens que têm que ser explicadas às populações.
Há que responsabilizar os políticos e as autarquias que continuam a defender o ostracismo e o isolamento das suas populações… Defendendo que as pessoas não podem “perder o seu posto médico, o seu SAP ou o seu hospital”. Mas que podem continuar desterradas onde vivem, sem meios de transporte para irem às farmácias, aos tribunais, aos notários, aos bancos, às câmaras municipais!
Maldito país real!
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Não podemos ser indiferentes ao descontentamento dos médicos nos tempos que correm, nunca vi tantos médicos a dizerem pensar sair ou desistir do que construíram. Desde médicos de família que pensam acabar com as suas USF, por não verem vantagem em continuarem a trabalhar no sentido da melhoria contínua (e até sentirem que os desfavorece) até médicos hospitalares a querer deixar de ser diretores de serviço, sair do sistema público e/ou, até, reformar-se antecipadamente. Tudo o que foi construído parece à beira de, rapidamente, acabar.