Rui Cernadas: e os farmacêuticos?
DATA
08/11/2014 01:25:18
AUTOR
Jornal Médico
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Rui Cernadas: e os farmacêuticos?

[caption id="attachment_6762" align="alignnone" width="300"]ruicernadas Rui Cernadas - Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.[/caption]

A Saúde é por toda a parte, em crise e em paz, mais do que nunca, uma actividade multidisciplinar que reúne saberes e experiências diversos, num espírito necessariamente colaborativo que, por força de razão, tem de colocar o doente e o indivíduo no centro do processo de dispensa de cuidados.

E estes cuidados, preventivos ou curativos ou paliativos, têm de ser vistos enquanto parte de um contínuo que, para além do respeito dos princípios éticos, deve obedecer ao estrito interesse do cidadão.

A discussão política e social em torno do tema é vasta e vai, em boa medida, passar pelas decisões e sobretudo pelas capacidades de financiamento e de sustentabilidade dos sistemas definido em cada país.

Mas, como quer que seja, o cruzamento dos profissionais no contexto assistencial é não só óbvia, como – diria mesmo – indispensável.

Também a Saúde, no geral, vive um período de naturais pressões sobre a despesa. Ou talvez mais do que sobre a despesa, sobre o seu crescimento!

Porém nesta matéria são conhecidos os factores que directamente condicionam o vector da despesa: o aumento do rendimento, a inovação científica e tecnológica e o envelhecimento da população.

Em Portugal julgo que estes aspectos adquirem uma acuidade e actualidade notórias.

Quanto ao rendimento, nem perderei tempo com ele…

A inovação, qualquer inovação, parece entre nós chegar, ver e vencer e, mesmo num país que reconhece e identifica constrangimentos no plano das diversas literacias e formação, consegue resultados impressionantes no processo de adesão, como o demonstram as taxas de penetração nos mercados das tecnologias ligadas aos telemóveis e sucedâneos, ou aos computadores pessoais ou aos vários “simplex” criados dentro e fora da Administração Pública…

Por fim, o factor demográfico, verdadeiramente trágico para o país, com graves cenários no definhamento populacional a curto prazo.

É por isso que há que garantir o sucesso e a determinação das reformas organizativas no Serviço Nacional de Saúde (SNS).

O acordo celebrado entre o Ministério da Saúde e as farmácias e os serviços que estas prestarão no “âmbito dos programas de Saúde Pública e do seu contributo para a evolução do incremento da dispensa de medicamentos genéricos” é um desses exemplos e caminho.

Na verdade, sendo unidades de comercialização, as farmácias são igualmente unidades prestadoras de cuidados de saúde.

Primeiro, porque em Portugal, as farmácias e os farmacêuticos são, culturalmente, elementos de proximidade e de confiança dos clientes e cidadãos. A procura de ajuda, de informação, de aconselhamento e de orientação é tradicional em qualquer farmácia, de áreas rurais ou urbanas.

Segundo, porque o papel de charneira no sistema, ligado não apenas à dispensa do medicamento mas sobretudo à informação relativamente a aspectos posológicos ou de utilização, é inquestionável.

E por fim – nesta abordagem meramente superficial –, porque a acessibilidade nos horários de funcionamento e na rede de estabelecimentos existente é extraordinária, mesmo tendo em conta as dificuldades financeiras que o sector atravessa depois de muitos anos de crescimentos anuais significativos.

O uso de medicamentos é um factor crítico na eficiência dos sistemas de saúde, mas é também a maior parcela na despesa gerada em saúde.

Ora, num contexto de gestão da doença e num cenário de mudança de paradigma entre doença aguda e doença crónica, se os visados quiserem, a transferência de tarefas dos médicos para outros profissionais, como farmacêuticos ou enfermeiros, parece constituir oportunidade.

Que tarefas?

Algumas são bem conhecidas e divulgadas, ligadas por exemplo aos programas de troca de seringas, ou ao papel na difusão de mensagens, ainda que associadas a campanhas comerciais, como a evicção tabágica, ou a substituição do sal ou a prevenção do cancro de pele ligada à exposição solar ou enfim, Os muitos rastreios: tensional, glicémico ou da osteoporose…

A gestão de medicação e sua revisão e observação de cumprimento posológico e aderência, o controlo da polimedicação, a monitorização dos efeitos adversos, a avaliação da automedicação, o apoio aos programas de gestão aplicada a cada doença crónica, algum tipo de visitação domiciliária, entre outras, seriam naturalmente outras áreas em que poderíamos reflectir numa perspectiva de garantia de continuidade e integração dos cuidados de saúde.

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SNS: para quando uma mudança win-win?
Editorial | Inês Rosendo, Direção da APMGF
SNS: para quando uma mudança win-win?

Não podemos ser indiferentes ao descontentamento dos médicos nos tempos que correm, nunca vi tantos médicos a dizerem pensar sair ou desistir do que construíram. Desde médicos de família que pensam acabar com as suas USF, por não verem vantagem em continuarem a trabalhar no sentido da melhoria contínua (e até sentirem que os desfavorece) até médicos hospitalares a querer deixar de ser diretores de serviço, sair do sistema público e/ou, até, reformar-se antecipadamente. Tudo o que foi construído parece à beira de, rapidamente, acabar.

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