[caption id="attachment_6762" align="alignnone" width="300"] Rui Cernadas - Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.[/caption]
O mundo tem mudado rapidamente e em todos os aspectos ligados à vida humana.
Não é tempo nem propósito discutir sequer se para melhor ou para pior. Apenas se quer sublinhar a importância e a dimensão múltipla dessa mudança.
Uma das principais características releva para a maior longevidade das pessoas e para os problemas que, por exemplo na prestação de cuidados de saúde, isso implica.
Desperta por todo o mundo científico o alarme da necessidade de estudar o fenómeno na sua globalidade, cujas consequências sociais e económicas, estou certo, determinarão um novo figurino e modelo organizativo assistencial e quiçá, um outro tipo de Estado Social.
Os números falam por si e pelo mundo ocidental os escalões etários que mais aceleradamente crescem são os que se situam acima dos sessenta anos e, em particular, acima dos oitenta anos.
Em 1999, a Organização Mundial de Saúde estimava em cerca de cento e cinquenta mil os indivíduos com mais de 100 anos de idade, os “centenários”…
Para 2050, as projecções da mesma organização apontam para mais de dois milhões de “centenários”!
Ao nível da linguagem, a questão ganha novos termos e expressões e os americanos, por exemplo, felizes nas expressões à custa da língua inglesa, fundiram nas palavras antiaging medicine muitos dos conceitos e das linhas de abordagem usadas entretanto em torno da saúde no envelhecimento e/ou do envelhecer saudavelmente…
Chama agora de antiaging medicine ao que antes e em separado designavam como medicina para a longevidade ou envelhecer com sucesso ou optimizar o envelhecimento, ou a quarta ou quinta idades ou envelhecer bem!
A indústria já despertou para o tema há mais tempo e é hoje um enorme filão de negócio em vertentes que vão desde a cosmética aos ginásios seniores, dos suplementos alimentares ditos específicos, à comercialização de quanto sirva ao fim em promoção da necessidade e do desejo!
A Medicina ainda, como exercício profissional, um pouco por todo o lado trata a questão como tratou no início e no passado os bebés e a pediatria, uma espécie de medicina adaptada aos mais pequenos e de menor peso…
O reconhecimento de uma especialidade ainda dá os seus passos.
O processo biológico do envelhecimento ou, pelo menos sobre os mecanismos de controlo do antienvelhecimento, precisa de ser o fulcro da investigação até porque, independentemente dos avanços bioquímicos, farmacológicos e tecnológicos poderem tratar mais e melhor, as pessoas todas vão vivem mais anos.
Pode parecer algo especulativo, mas há cento ou cento e cinquenta anos atrás, quem pensava que iríamos poder utilizar a hormona do crescimento como aplicação terapêutica?
E será ilegítimo admitir que os projectos da engenharia genética ou na área das células estaminais possam evoluir no sentido, se quiserem, da intervenção sobre as mais variadas e infindas disfunções fisiológicas do envelhecimento humano?
É verdade que, no princípio do século XX, as pessoas morreriam em termos médios antes dos cinquenta anos, por causas infecciosas, como as pneumonias, as diarreias ou a tuberculose. Ou que no princípio deste século, terão uma expectativa média de vida até cerca dos setenta e cinco anos de idade, morrendo já não do que as poderia matar cem anos antes, mas agora de doenças vasculares ou de cancro!
Mas as previsões para 2050 são complexas e algo assustadoras.
Um país como Portugal, por essa altura poderá perder num cenário possível mas mais pessimista, até 40% da sua população, quer por envelhecimento quer por falta de nascimentos…
Ao mesmo tempo, trágica e paradoxalmente, a esperança média de vida poderá estabilizar nos oitenta anos…
Aí está um ponto sobre o qual, mais uma vez, Portugal precisa de consensos alargados e de estratégias sérias e coerentes.
E políticas estruturadas que tenham em vista também o consumo e a procura dos cuidados de saúde e quem são ou serão os cuidadores…
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Não podemos ser indiferentes ao descontentamento dos médicos nos tempos que correm, nunca vi tantos médicos a dizerem pensar sair ou desistir do que construíram. Desde médicos de família que pensam acabar com as suas USF, por não verem vantagem em continuarem a trabalhar no sentido da melhoria contínua (e até sentirem que os desfavorece) até médicos hospitalares a querer deixar de ser diretores de serviço, sair do sistema público e/ou, até, reformar-se antecipadamente. Tudo o que foi construído parece à beira de, rapidamente, acabar.