O dirigente comunista Jorge Pires frisou que o PCP é contra a atual política de saúde, conduzida pelo PS, mas também da responsabilidade do PSD/CDS-PP, que desvia três mil milhões de euros (ME) por ano para grupos empresariais privados.
O secretário-geral do PCP considera que a reposição das 35 horas semanais no setor da Saúde foi “uma das medidas mais justas”. No entanto, Jerónimo de Sousa pede que o Governo avance com mais contratações de profissionais de saúde.
O Partido Comunista Português (PCP) agendou um debate de atualidade para sexta-feira, na Assembleia da República, com o objetivo de discutir a atual situação dos trabalhadores do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
A Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (ULSBA) admitiu, hoje, ter tido dificuldades no que diz respeito a stocks de materiais de consumo corrente, durante os primeiros meses do ano.
A Assembleia da República debate hoje projetos de resolução do PCP, do PAN e do BE que recomendam ao Governo o reforço das respostas públicas na área da toxicodependência e alcoolismo.
O secretário-geral do PCP disse que o CDS, que “bateu com a mão no peito em relação à saúde”, devia “prestar contas” por votar contra fim das taxas moderadoras e acompanhamento de doentes não urgentes.
O PCP disse estar preocupado com a falta de pessoal médico no interior do país, tendo o deputado António Filipe defendido investimentos na “modernização de equipamentos e em incentivos financeiros” que sirvam de atração à sua fixação.
O PCP acusou o Governo minoritário do PS de tardar em tomar medidas em defesa do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e anunciou que vai propor um plano de emergência para a saúde.
O PCP denunciou que utentes com "prioridade urgente" tiveram que esperar "mais de sete horas" para serem atendidos, no passado dia 1 de agosto, no Hospital de Braga, indicando que o atendimento àqueles doentes era assegurado apenas por um médico.
Questionado pela agência Lusa, o Hospital de Braga – parceria público-privada com o Grupo Mello Saúde – confirmou, por escrito, que aquela unidade de saúde tem vindo a "assinalar níveis bastante elevados" de afluência devido ao calor e que a 1 de agosto se registou efetivamente "um pico" de afluência ao serviço de Urgência, garantindo que tem "envidado todos os esforços" para "fazer face ao aumento de afluência de doentes e para garantir a resposta adequada às necessidades da população".
Segundo o PCP, "no passado dia 1 de agosto os doentes do serviço de Urgência do Hospital de Braga, a quem foi atribuída a prioridade urgente (pulseira de cor amarela segundo a triagem de Manchester) tiveram que aguardar mais de sete horas para serem vistos por um médico".
A deputada comunista Carla Cruz denuncia ainda a falta de água nas máquinas dispensadoras de alimentos colocadas na área e quer saber se o Governo tem conhecimento da situação descrita, questionando ainda o ministério de Adalberto Campos Fernandes sobre "quantos profissionais (médicos, enfermeiros, assistentes operacionais) estiveram a trabalhar no dia 01 de agosto de 2016 no serviço de urgência geral do Hospital de Braga".
Ao PCP interessa ainda saber quantos médicos dos que prestam funções naquele serviço são do quadro do Hospital de Braga e quantos são os recrutados a empresas de trabalho temporário.
A deputada do PCP, Diana Ferreira, alertou ontem, após a visita aos hospitais de Penafiel e Amarante, para a necessidade de reforço dos quadros de anestesistas e enfermeiros no Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, prometendo questionar o Governo.
"Há dificuldades e carências, transversais a todo o país, que residem muito na carência dos profissionais na área da saúde", afirmou. A parlamentar comunista, eleita pelo círculo eleitoral do Porto, defendeu que a contratação de mais profissionais naquelas áreas geográficas poderá melhorar a qualidade dos serviços de saúde prestados à população, salientando que, apesar das dificuldades identificadas, "são unidades recentes do ponto de vista do edificado, com uma boa resposta nos atendimentos aos utentes".
"A ideia que temos quando saímos daqui é que há uma dedicação muito grande dos profissionais de saúde destes hospitais para dar resposta às necessidades da população", comentou Diana Ferreira. Apesar de ter sido aberto concurso para a contratação de três médicos anestesistas, a deputada considera as medidas ainda insuficientes, tendo em conta as necessidades do centro hospitalar: "é um passo, mas não resolve o problema no concreto", declarou.
Quanto aos enfermeiros, a deputada recordou que se os horários dos profissionais forem alargados, ao abrigo dos contratos individuais de trabalho, há que reforçar os recursos humanos. O centro hospitalar conta atualmente com cerca de 550 enfermeiros, metade com contrato individual de trabalho, de acordo com a administração, que também alertou para a falta de pessoal auxiliar.
Em relação aos acessos ao hospital de Penafiel, a deputada referiu a necessidade de intervenção do Governo relativamente à questão do IC35, no estabelecimento de prioridades a nível de construção daquela infraestrutura rodoviária, reclamada há décadas, referindo também a importância de ser criada uma rede de transportes públicos para assegurar melhores ligações aos hospitais, sobretudo para os cidadãos residentes no interior do distrito do Porto mais carenciados.
O PCP e culpou hoje o desinvestimento no Serviço Nacional de Saúde (SNS) por parte do Governo PSD/CDS-PP pelas atuais falhas, citando o exemplo da recente morte de um jovem por aneurisma no Hospital de São José, Lisboa.
Em resposta à declaração política no parlamento do deputado comunista João Ramos, o social-democrata Miguel Santos acusou a bancada do PCP de protagonizar "uma política primitiva", através da "instrumentalização de uma tragédia".
"Está a utilizar a desgraça alheia para, com base em considerações não apuradas, fazer este aproveitamento político. Decorre um inquérito, pelo seu Governo [PS, com apoio de BE, PCP, PEV], com vista ao apuramento das circunstâncias ocorridas", criticou o deputado do PSD.
Antes, João Ramos tinha afirmado que "a origem destes problemas se funda numa só causa - durante quatro anos, o Governo PSD/CDS entendeu que o SNS deveria ser emagrecido".
"Foram anos de subfinanciamento e de desmantelamento do SNS, de desinvestimento e desvalorização dos profissionais de saúde. É verdade que este caminho começou a ser trilhado anteriormente, mas é também verdade que se intensificou drasticamente", disse.
O socialista António Sales defendeu que, agora, com o novo executivo liderado por António Costa, "abre-se novo período de esperança", pois, "em um mês e meio, o Governo reduziu taxas moderadoras, contratualizou com mais médicos diferenciados, introduziu mais consultas de especialidade nos centros de saúde, houve um reforço dos cuidados, nomeadamente na área da saúde oral".
"Pôr o dedo na ferida é apontar responsabilidades pelo estado da saúde em Portugal. A ação do Governo PSD/CDS baseou-se nos cortes cegos, encerramento de serviços, preocupação com os interesses privados e em empurrar os custos para o utente. Hoje, há de facto sinais de mudança", concordou o ecologista José Luís Ferreira.
O parlamentar bloquista Moisés Ferreira lamentou que PSD e CDS nada tenham feito perante diversos avisos da oposição e populações.
"Lançar um anátema sobre o SNS foram as políticas que provocaram rotura nestes serviços, reduzido orçamento atrás de orçamento. Os hospitais estão no limite da sua capacidade de resposta. Quem lançou o anátema foi quem os colocou neste limite de resposta", afirmou o deputado do BE, também em resposta ao social-democrata Miguel Santos.
Lusa
Pesem as críticas permanentes à excessiva centralização da orgânica do Serviço Nacional de Saúde (SNS) nos cuidados secundários e o apelo a uma maior aposta nos cuidados de saúde primários (CSP), como alicerce do sistema nacional de saúde no seu todo (público, privado e social) a verdade é que nos diferentes programas políticos que irão a sufrágio eleitoral no próximo dia 4, a maioria das medidas apresentadas denunciam a visão hospitalocêntrica do sector. De facto, os hospitais são o principal alvo das diferentes propostas dos partidos, da direita à esquerda mais radical.
PSD/PP: Hospital de Lisboa Oriental vai avançar
Até 2025, a coligação “Portugal à Frente” quer ver programada a rede hospitalar nacional, “de forma a manter a sua adequação à procura e a assunção de uma hierarquização da complexidade da prestação de cuidados, integrando os pressupostos definidos nas redes de referenciação hospitalar e os centros de referência existentes, bem como a definição dos conceitos de hospitais e serviços afiliados”.
Desinserida do contexto narrativo programático e à cabeça das medidas concretas a implementar no terreno, surge a promessa de avançar com a construção do Hospital Lisboa Oriental (de Todos os Santos), incorporando as unidades hospitalares e valências que lhe dão origem… E de reavaliação das prioridades na construção ou ampliação de alguns hospitais, como os do Funchal, Amadora/Sintra, Algarve, Évora, Península de Setúbal e Vila Nova de Gaia.
Subjacente a toda a “reestruturação” desenhada para os cuidados secundários está a implementação de centros de referência, desejando a atual maioria, caso venha a ser reeleita, assegurar a “sua integração na Rede Europeia de Centros de Referência, como modelo de garantia de cuidados de excelência em áreas de elevada diferenciação”, lê-se no documento. Será nestes centros de referência que se irão desenvolver modelos de prática clínica focados nos processos clínicos e no percurso do doente.
Em destaque no programa, está ainda a promessa de se aprofundar e rever “o modelo de gestão das unidades locais de saúde, de forma a prosseguir uma integração plena e mais eficaz entre os diferentes níveis de cuidados”.
Prosseguir com o processo de devolução dos hospitais às misericórdias e concluir uma rede coordenada de laboratórios de saúde pública, concentrando as respostas e eliminando as redundâncias é outra das apostas do atual executivo, que pretende ainda dar execução ao Sistema de Informação Georeferenciado de Dados de Saúde, como instrumento de obtenção fidedigna de informação global e específica, garantindo a disponibilização permanente de dados de forma transparente e inequívoca. Investir na saúde digital, fomentando a utilização de ferramentas digitais a todos os níveis do sistema de saúde, melhorar a informação de modo a aumentar a eficiência são, de resto, as apostas mais fortes da coligação que suporta o atual executivo, ocupando um espaço considerável no programa eleitoral.
Entre outras medidas, sobressai a intenção de Integrar, “de forma sustentada e progressiva, e-Health, m-Health, telemedicina e inteligência artificial na prestação de cuidados de saúde, o que permitirá uma melhoria exponencial da acessibilidade e a diminuição da iniquidade”, lê-se no programa da coligação “Portugal à Frente”.
Reforçar a articulação entre os diferentes níveis de cuidados, reduzir as listas de espera para consultas de especialidade e cirurgia e fortalecer a rede de cuidados continuados e paliativos são outras das apostas da coligação.
PS: melhor planeamento e incentivos à mobilidade dos profissionais
À semelhança da coligação PSD/PP, também o Partido Socialista se apresenta ao eleitorado com propostas concretas de melhoria da gestão dos hospitais, da circulação de informação clínica e da articulação com outros níveis de cuidados e outros agentes do sector. Objetivo: pôr fim ao problema recorrente das consultas não-especializadas, urgências não-urgentes e dos doentes retidos para lá da fase aguda da doença.
No seu programa eleitoral, o partido de António Costa compromete-se a reformar os hospitais na sua organização interna e modelo de gestão, tendo como exemplo inspirador as unidades autónomas de gestão (UAG), apostando na autonomia e na responsabilização da gestão e na aplicação de incentivos ligados ao desempenho. E também a “avaliar as experiências hospitalares existentes em regime de parceria público-privada (PPP), explicitando as suas vantagens e inconvenientes de modo a introduzir melhorias corretoras ou revisoras”.
A criação de um sistema integrado de gestão do acesso – SIGA, “que facilite o acesso e a liberdade de escolha dos utentes no SNS, nomeadamente no que diz respeito a áreas onde a espera ainda é significativa”, como as consultas de especialidade, internamentos, meios auxiliares de diagnóstico e terapêutica, associado à implementação de um Registo de Saúde Eletrónico, que permita a gestão do acesso com eficiência, equidade e qualidade são outras das apostas socialistas.
Em sede de gestão, o PS propõe uma verdadeira reforma do modelo em vigor. Mudanças que obrigarão a um aperfeiçoamento do atual modelo de contratualização dos serviços, introduzindo incentivos associados à melhoria da qualidade, eficiência e equidade, inseridos nos contratos de gestão e o reforço da autonomia e da responsabilidade dos gestores do SNS e das unidades prestadoras de serviços.
Melhorias só possíveis, aponta-se no programa, através de um melhor planeamento e incentivos à mobilidade dos profissionais.
PCP, BE e L/TDA: fim das PPP e da entrega de hospitais às misericórdias
Partindo da premissa de que a gestão dos estabelecimentos do SNS deve ser pública, rejeitando qualquer cedência da mesma a entidades privadas, os partidos mais à esquerda propõem uma rutura drástica face ao modelo existente.
Desde logo, defende o PCP no seu programa, é preciso reverter para a esfera pública a propriedade e gestão dos serviços atualmente a funcionar sob regime de PPP (Braga, Vila Franca de Xira, Loures, Cascais e Linha Saúde 24), defendendo que deverá “apenas ser pago o investimento efetuado depois de renegociados prazos, juros e garantias de obras e de equipamentos de acordo com a contratação pública”.
Como também se exige o “fim do processo de transferência de hospitais públicos para as misericórdias e a reversão para o SNS dos hospitais que entretanto tenham sido já transferidos para estas instituições”, bem como a Integração de todos os “hospitais empresa” do Serviço Nacional de Saúde no sector público administrativo… E a extinção “dos centros hospitalares criados com o único objetivo, de reduzir serviços, camas e despesa e com áreas de referência definidas sem critério”.
Privados… Nunca! Para tanto, será necessário, entre outras medidas, “reforçar a capacidade de resposta do SNS, para que, progressivamente, sejam dispensadas as contratações de serviços a privados (telemedicina, contratação de empresas para colocar profissionais, concessão de serviços de imagiologia de hospitais, entre outros)”.
À semelhança do PCP, também o Bloco de Esquerda defende a devolução “ao domínio público a gestão dos hospitais em PPP e os hospitais e outras unidades de saúde (centro de reabilitação física do Norte, por exemplo) entregues às Misericórdias”.
Já o Livre/Tempo de Avançar propõe que os mecanismos de autonomia e auto-organização interna dos hospitais devem ser reforçados, na lógica da complementaridade, da cooperação, do aproveitamento integral dos recursos instalados e de uma visão matricial da sua organização, consideradas as necessidades de prestação de cuidados de cada Comunidade Local de Saúde (ver peças anteriores).
A Plataforma Saúde em Diálogo alertou hoje para a “contínua degradação” do Serviço Nacional de Saúde e desafiou os políticos a criarem um “estratégia de longo prazo para a saúde”.
O alerta da plataforma, uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS), sem fins lucrativos, que congrega 43 associações de doentes, promotores e profissionais de saúde e de consumidores, surge na sequência de um encontro que realizou na terça-feira, em Lisboa, com representantes de partidos políticos.
No encontro, que contou com a presença deputados Carla Cruz (PCP), Carla Rodrigues (PSD), Teresa Caeiro (CDS-PP) e de Álvaro Beleza da Comissão Política do PS, a presidente da plataforma, Maria do Rosário Zincke, exprimiu “a preocupação das entidades que dão voz aos doentes para a contínua degradação que atualmente se assiste no Serviço Nacional de Saúde”, refere a Plataforma Saúde em Diálogo em comunicado hoje divulgado.
Desafiou também os deputados a criarem “uma estratégia de longo prazo para a Saúde”, que deve apostar na literacia, na prevenção e na promoção da saúde, com enfoque especial nas doenças crónicas, que representam atualmente “a maior percentagem dos encargos com a doença na Europa, sendo responsáveis por 86% de todas as mortes”.
Segundo a Plataforma Saúde em Diálogo, a deputada comunista Carla Cruz mostrou-se a favor da criação de um estatuto do doente crónico, defendeu a alocação de mais recursos financeiros e humanos à saúde e propôs a eliminação das taxas moderadoras.
Já a deputada do CDS Teresa Caeiro realçou os bons indicadores de satisfação dos utentes relativamente ao Serviço Nacional de Saúde, refere o comunicado.
A deputada do PSD Carla Rodrigues considera que mais importante do que o Estatuto do Doente Crónico é a criação de medidas concretas de apoio aos doentes.
Para Álvaro Beleza, da Comissão Política do PS, a estratégia de futuro passa por “apostar no que é público”, “gerir melhor o que é público”, melhorar a acessibilidade e promover a gestão integrada (hospitais, rede de cuidados primários e continuados), descentralizar e atribuir maior poder e responsabilidade aos utentes e às associações, adianta o comunicado.
No comunicado, a Plataforma Saúde em Diálogo sublinha que, na reunião, “ficaram claras algumas linhas de consenso” no que toca à importância do doente, à necessidade de respostas eficazes para o reconhecimento do papel do cuidador, a uma maior aposta na prevenção da doença e ao envolvimento ativo e efetivo do cidadão e das associações na criação, implementação e monitorização das políticas de saúde.
A Assembleia da República tem agendado, para a próxima sexta-feira, a votação de dois projectos de Lei, apresentados pelo Bloco de Esquerda e pelo Partido Comunista, que revogam a Lei dos Compromissos e dos Pagamentos em Atraso.
No seu projecto, os comunistas fundamentam a iniciativa com os alegados “constrangimentos” que a Lei em vigor causa ao funcionamento dos serviços públicos.
Na área da saúde, apontam os deputados do PCP, tem provocado nos serviços “constrangimentos diários, decorrentes da aplicação desta lei, a acrescer aos sucessivos cortes orçamentais”.
“Hoje as administrações hospitalares têm duas opções, ou são responsabilizadas pelo não cumprimento da Lei dos Compromissos e dos Pagamentos em Atraso ou pelo não tratamento dos doentes. Muitos administradores hospitalares assumiram publicamente que a aplicação da lei não é compatível com a missão dos hospitais, referindo mesmo a impossibilidade do seu cumprimento” apontam. Segundo os deputados do PCP, “são os próprios administradores hospitalares que afirmam que preferem ser julgados por incumprimento da lei do que por homicídio”. Sendo que “tais declarações evidenciam bem o impacto desta lei na prestação de cuidados de saúde aos portugueses. Se fosse integralmente aplicada impediria milhares de portugueses de aceder à saúde”.
Nos argumentos que fundamentam a sua proposta de Lei, a bancada do PCP aponta para o facto de nos estabelecimentos públicos de saúde registarem-se faltas de material clínico, “adia-se a realização de cirurgias e restringe-se a dispensa de medicamentos aos utentes. Há relatos da ocorrência de racionamento na dispensa de medicamentos, que se traduz na sua dispensa somente para 5, 10 ou 15 dias, quando anteriormente a dispensa era por um período mais alargado –, obrigando os doentes a deslocações mais frequentes às unidades hospitalares, com custos acrescidos, o que pode constituir mais um impedimento no acesso à saúde, dado os baixos rendimentos dos trabalhadores e reformados”.
Segundo os comunistas, “o dia-a-dia demonstra que a aplicação da Lei dos Compromissos e dos Pagamentos em Atraso aos estabelecimentos públicos de saúde gera novos obstáculos na prestação de cuidados de saúde adequados aos utentes”, dando como testemunho a listagem das entidades da Administração Pública que se encontram em incumprimento da Lei dos Compromissos e dos Pagamentos em Atraso, publicada pela Direcção Geral do Orçamento referente ao mês de Novembro de 2013, em que das 72 unidades e serviços considerados incumpridores pelo Governo, 15 são serviços da área da Saúde.
Os argumentos que sustentam a necessidade de se revogar a Lei dos Compromissos apresentados pelo Bloco de Esquerda na sua proposta de Lei, pouco diferem dos apresentados pelos deputados comunistas.
“O Serviço Nacional de Saúde é uma das áreas onde os serviços têm funcionado graças ao incumprimento da Lei dos Compromissos e dos Pagamentos em Atraso. É uma lei incompatível com o serviço público. À sua custa e face aos constrangimentos financeiros dos hospitais tem-se verificado ruptura nos serviços, racionamento e mesmo falta de medicamentos, a não realização de tratamentos e até o adiamento de cirurgias e ainda a falta de material de consumo clínico” apontam os deputados bloquistas. Avançando com exemplos concretos de denúncia da situação vivida no terreno, os deputados chamam à colação declarações de Pedro Lopes proferidas enquanto presidente da Associação de Administradores Hospitalares, em Dezembro de 2012, em que este dirigente garantia que “muitos hospitais não vão claramente conseguir cumprir a lei dos compromissos e há outros que vão ter dificuldade”.
Também nessa altura, apontam os “bloquistas” o director do Programa VIH/Sida, Alexandre Diniz, confirmou a existência de "rupturas pontuais nos hospitais em percentagem significativa". Dizendo ainda que nesse mês não havia medicamentos em quantidade suficiente, obrigando assim as pessoas a "levantar a medicação nos hospitais com uma periodicidade inferior a 30 dias". Já o director do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas disse em sede de audição parlamentar que a actividade oncológica no país estava subfinanciada e denunciava a existência de situações de desigualdade entre doentes tratados no público e no privado.
Segundo os deputados do Bloco, “Esta situação é actual e tem-se mantido constante. A única forma de manter o serviço é através da violação da lei, o que pode aliás ser constatado no reporte divulgado pela Direcção Geral do Orçamento”. Segundo os redactores da proposta, “A generalização da desobediência levou mesmo o FMI, no final de 2013, a sugerir que os funcionários que não cumpram a lei dos compromissos nos hospitais sejam efectivamente sancionados”.
PSD, PS e CDS-PP votaram hoje contra dois projectos de lei de PCP e Bloco de Esquerda (BE) com vista à eliminação do pagamento de taxas moderadoras na Saúde.
Os projectos tiveram "luz verde" de PCP, BE e "Os Verdes", e votos contra das restantes bancadas, com uma deputada do PS, Maria Antónia Almeida Santos, a abster-se.
Os documentos de PCP e BE diziam que as taxas consistem num "obstáculo" na "universalidade de acesso" aos cuidados médicos.
Projectos de ambas as forças políticas referentes à isenção de encargos com o transporte não urgente de doentes foram também hoje chumbados no parlamento.
O PCP e o Bloco de Esquerda (BE) apresentaram no parlamento dois projectos de lei para a eliminação do pagamento de taxas moderadoras na Saúde, um "obstáculo" na "universalidade de acesso" aos cuidados médicos, reclamam.
O PCP, disse em plenário a deputada Carla Cruz, pretende "dar uma resposta urgente para assegurar a universalidade no acesso à saúde", e o BE, declarou a parlamentar Helena Pinto, diz que a "realidade desmente o Governo e os partidos que o suportam" sobre o funcionamento do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Na maioria, a parlamentar do CDS-PP Teresa Caeiro acusou PCP e Bloco de "qualquer que seja o Governo" em funções, seja de direita ou mais à esquerda, dizerem "sempre as mesmas palavras", dizendo mesmo que o PCP desde 1990 que fala em abolir as taxas moderadoras.
"Uma mentira muitas vezes repetida não se torna numa verdade", registou Teresa Caeiro, corroborada pela deputada do PSD Maria Manuela Tender, que disse que BE e PCP "omitem que há hoje em Portugal mais de 5 milhões e 700 mil utentes do SNS isentos do pagamento de taxas moderadoras, mais de um milhão que no Governo anterior".
As taxas moderadoras, lembrou ainda, têm a finalidade "de moderar a procura exagerada ou excessiva dos serviços de saúde", e não mais que isso.
O PS, por seu turno, na voz da deputada Luísa Salgueiro, defende que as taxas devem ter um efeito "verdadeiramente moderador" no acesso aos cuidados de Saúde, criticando aumentos nas taxas em 2011, com o actual Governo, que "nalguns casos foram de 200%".
Hoje também foram discutidos na Assembleia da República dois outros projectos de PCP e Bloco sobre o sector da Saúde: um primeiro, do PCP, procurando definir os critérios de atribuição do transporte de doentes não urgentes e um outro, do BE, reclamando isenção de encargos com o transporte não urgente de doentes.
O secretário-geral do PCP diz que a urgência do Hospital Garcia de Orta reflecte o agravamento das condições de vida de muitos portugueses obrigados a recorrerem àquele serviço devido ao encerramento de serviços de saúde.
"Este hospital reflecte aquilo que vínhamos dizendo: o agravamento das condições de vida das pessoas que atinge particularmente os mais vulneráveis", disse Jerónimo de Sousa ontem, no final de uma visita ao Hospital Garcia de Orta, em que reuniu com o Conselho de administração, com representantes sindicais do sector da saúde e em que visitou o serviço de urgência.
Para o líder comunista, o problema central do SNS (Serviço Nacional de Saúde) nem sequer passa pelas urgências hospitalares, mas pelo encerramento de unidades de cuidados de saúde primários de proximidade, que acabam por empurrar muitos portugueses para as urgências, como acontece no Garcia de Orta.
"Estamos perante uma grande unidade hospitalar, que serve 350.000 pessoas, e aquilo que se verifica é que as consequências da liquidação dos serviços de proximidade, dos cuidados primários de saúde e a falta de resposta, tendo em conta a política de encerramentos nos últimos anos, leva a que muitos idosos recorram às urgências, porque não tiveram médico de família, não tiveram acompanhamento no serviço de saúde", disse.
"Vêm para o hospital sem alternativa, porque a única alternativa é morrerem", acrescentou Jerónimo de Sousa, reiterando que o problema é ainda mais dramático para os idosos.
O dirigente comunista alertou também para a destruição progressiva do SNS, não por decreto, mas através de sucessivos cortes orçamentais e da precariedade das relações de trabalho dos profissionais de saúde, que acabam por prejudicar a qualidade do serviço prestado aos utentes.
"Neste momento em que estamos assistir à liquidação de carreiras, aumento dos horários de trabalho, cortes brutais nos seus vencimentos e direitos, o que pode ter implicações no grau de motivação dos profissionais, pode levar a situações de abandono, para a reforma ou para o sector privado, pode levar a uma precariedade muito grande. E nós consideramos que o respeito pelos direitos destes profissionais constituem um bem precioso para garantir o SNS", advertiu.
"Nunca vai haver um decreto a dizer: fim ao SNS. O problema é que o SNS pode ser destruído paulatinamente com estas políticas de cortes orçamentais, com o encerramento de serviços de saúde, com o ataque aos profissionais de saúde", acrescentou.
No final da visita, em que ainda trocou algumas palavras com o utente que disse ter estado "dez horas" à espera para ser atendido no serviço de urgência do Garcia de Orta, Jerónimo de Sousa Jerónimo de Sousa afirmou que a defesa do SNS passa por uma nova política de saúde.
"Nós consideramos fundamental que o SNS, que a Constituição da República consagra, ainda pode ser defendido desde que haja uma política diferente que respeite quem trabalha, que não destrua mais serviços de proximidade fundamentais para as populações e, particularmente, para os idosos", concluiu.
Escritor, cronista, argumentista integrou as equipas responsáveis por Zapping, Equador, 5 para a Meia-noite ou A Rede.
Colaborou com o Rádio Clube Português, o Observador, O Inimigo Público e a revista Atlântico.
Foi editor de cultura de A Capital e crítico de cinema do jornal i.
É Creative Director da LPM.