Os doentes referenciados após o resultado positivo na pesquisa de sangue oculto nas fezes (PSOF) aguardam, em média, cinco meses por uma colonoscopia, quando o “ideal é três semanas”, colocando “em causa vidas humanas”, alertou a Europacolon Portugal.
A Europacolon Portugal demonstrou-se, em comunicado, “preocupada com a inexistência de um rastreio de base populacional desta patologia em todo o país”. De acordo com a associação, esta é uma medida que, ao ser implementada, pode diminuir o número de mortes por cancro do intestino.
A Europacolon Portugal vai realizar em 2018 um estudo a nível nacional que visa aumentar a perceção dos médicos de Medicina Geral e Familiar sobre o cancro do pâncreas, a fim de melhorar o diagnóstico precoce da doença.
O presidente da Europacolon Portugal - Apoio ao Doente com Cancro Digestivo defendeu ontem o rastreio ao cólon e reto a nível nacional, entendendo não se justificar a realização de mais projetos-piloto.
O presidente da Associação de Apoio ao Doente com Cancro Digestivo - Europacolon Portugal, Vítor Neves, acusou o governo de fazer “falsas promessas” por continuar por arrancar o rastreio nacional ao cancro do intestino, anunciado para 2016.
Com uma incidência de mais de 12 mil novos casos anuais e uma mortalidade que ronda os 1.700 óbitos em Portugal, o cancro digestivo continua a ser subdiagnosticado. Falta uma estratégia de prevenção eficaz e sobretudo os meios de diagnóstico necessários a um rastreio de base populacional, tantas vezes prometido pelo poder político quantas as adiadas. Uma escassez que a contratação com o setor privado e social não conseguiu resolver, nem o aumento da capacidade de resposta dos hospitais centrais do SNS. Em muitos casos, o tempo de espera para os doentes seguidos num hospital público é superior a um ano, o que é absolutamente inaceitável no entender de médicos e também das associações de doentes. Como também são inaceitáveis as iniquidades que se registam ao nível das acessibilidades: denuncia o presidente da Europacolon Portugal
No âmbito do I Congresso da Europacolon Portugal em Oncologia Digestiva, que ocorreu no passado fim de semana, que teve lugar na Fundação Dr. António Cupertino de Miranda, no Porto, a Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG) destacou a urgência na adoção de medidas que promovam o acesso dos cidadãos aos exames de rastreio e de diagnóstico, com vista à redução drástica do elevado número de mortes por cancro do aparelho digestivo que, só em Portugal, faz uma vítima por hora (cerca de 11 por dia).
“A atitude preventiva no combate ao cancro digestivo deve ser encarada como um desígnio nacional da política de saúde, a par de uma clara inversão das políticas de redução e exaustão dos recursos hospitalares que inviabilizam a prossecução das NOC da Direção Geral de Saúde, nomeadamente do rastreio do cancro do cólon e reto”, alertou a Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG).
De acordo com o Presidente daquela Sociedade, José Cotter, “o cancro digestivo é um problema de saúde pública que engloba um grupo de cinco tumores malignos com uma elevada taxa de mortalidade. Em Portugal, morre uma pessoa por hora, vítima de cancro digestivo, sendo este ainda responsável por 10% do total de mortalidade no nosso país”.
Para o Presidente da SPG, o mais importante é a prevenção da doença através de consultas médicas regulares e na realização dos exames adequados no momento oportuno. “É fundamental que a tutela adote medidas coerentes e não apenas baseadas em questões de índole estritamente económica”, defendeu o responsável, apelando ainda à necessidade do Estado de respeitar os compromissos recentemente assumidos com os prestadores acerca da realização de colonoscopias, no sentido de facilitar o acesso a estes exames de diagnóstico.
José Cotter acrescenta que “esta patologia, se detetada a tempo em fase precoce ou pré-maligna apresenta uma taxa de cura em 90% dos casos”, avançando que “é preciso melhorar os números catastróficos e desoladores da incidência de novos casos de cancro digestivo”, sendo “fundamental a persecução de políticas que criem condições de sustentabilidade seguras para os rastreios, e sendo ainda crucial que se implementem auditorias à execução da NOC sobre o rastreio do cancro do cólon e do reto, indicado na população sem risco acrescido acima dos 50 anos, idade a partir da qual o aparecimento da doença aumenta significativamente.”
Temas como a intenção da implementação organizada do rastreio do cancro do estômago e do fígado em indivíduos de risco foram também abordados no primeiro encontro organizado pela Europacolon Portugal, que assinala este ano o 10º Aniversário.
A Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia queixa-se de que faltam médicos nos hospitais para cumprir o programa de rastreios ao cancro do cólon e do reto e acusa o Governo de estar a asfixiar as unidades hospitalares.
“Tem havido, contrariamente ao que foi prometido, uma estratégia de diminuição dos recursos humanos hospitalares, levando à completa exaustão dos parcos recursos que existem neste momento”, afirmou José Cotter, presidente da Sociedade de Gastrenterologia, em declarações à agência Lusa, o qual participará hoje no I Congresso da Europacolon Portugal, no Porto.
A Sociedade está preocupada, nomeadamente, com a falta de substituição dos gastrenterologistas que vão saindo dos hospitais.
“Estou no terreno e sei que médicos que têm saído não são substituídos, apesar dos múltiplos pedidos. Isto é uma situação insustentável”, afirmou José Cotter.
O médico explica que os rastreios ao cancro colorretal passam necessariamente pelos hospitais, quando há uma lesão ou alguma complicação com o doente.
“Há necessidade absoluta de manter os rastreios extra-hospitalares [através das colonoscopias feitas nas entidades concessionadas]. Por outro lado, há a necessidade de ter recursos humanos que permitam, nos hospitais, que esta estratégia de rastreio tenha um princípio, um meio e um fim, ou fica amputado o circuito”, justificou o responsável da Sociedade de Gastrenterologia.
A par do que considera ser a escassez de recursos humanos nos hospitais, José Cotter manifesta-se preocupado com a falta de pagamento da tutela a entidades convencionadas que realizam colonoscopias, por acordo com o Serviço Nacional de Saúde.
“A tutela diz que vai implementar o rastreio de base populacional do cancro do cólon até ao final do ano, por outro lado, acontece uma situação inédita: no mês passado a tutela não pagou aos prestadores”, indicou.
Para José Cotter, as falhas de pagamento não se podem repetir, uma vez que podem pôr em causa a adesão dos prestadores, logo, os próprios rastreios.
O cancro do cólon e do reto é o que mais mortalidade provoca em Portugal. Só em 2014, houve 7000 casos da doença, com a mortalidade a cinco anos estimada em 50%. Através dos rastreios precoces é possível detetar precocemente, permitindo uma sobrevida de 90% aos cinco anos.
A atual pressão que se coloca nos Cuidados de Saúde Primários (CSP) em Portugal é um presente envenenado para os seus utentes e profissionais de saúde.