Vai realizar-se a 26 de janeiro, no Auditório da Associação Nacional das Farmácias (ANF), em Lisboa, a primeira sessão do Fórum ‘’Saber mais para Apoiar Melhor’’, destinado às associações de pessoas que vivem com doença, utentes de saúde e parceiros do setor. A sessão conta com António Luz Pereira, médico de família e vice-presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF).
“Como médicos de família, estamos numa posição privilegiada para perceber o funcionamento do sistema de saúde. Os nossos utentes frequentemente contactam com outros pontos do sistema, internamentos, cirurgia, consultas hospitalares, serviço de urgência e, uma vez que integramos toda esta informação sobre o utente, constatamos que o desenvolvimento dos sistemas de informação e a melhoria da forma como a informação circula é um dos pontos essenciais para a melhoria da prestação de cuidados aos utentes”, salienta, explicando o seu contributo para esta sessão.
A sessão esteve dedicada ao tema dos dados em saúde, nomeadamente, a discussão sobre a necessidade efetiva de se implementar um registo único de dados em saúde centrado no utente, permitindo que essa informação possa ser partilhada, com o devido consentimento, com os vários profissionais de saúde/unidades de saúde, nos diversos níveis de cuidados, públicos ou privados.
António Luz Pereira destaca que em consulta “somos capazes de interagir com dezenas de aplicações diferentes em que a integração delas é muito ténue, motivando muitas vezes a duplicação de registos ou necessidade de consultar várias aplicações para ter a informação que necessitamos. A taxa de informatização dos processos clínicos é muito boa, mas é necessário agora melhorar a integração das diversas plataformas eletrónicas existentes e a partilha de dados de forma a que os profissionais e utentes possam tirar maior benefício da sua utilização”. Nesse sentido, “A APMGF tem contribuído para o debate de como devem evoluir os sistemas de informação para que se tornem verdadeiros sistemas de apoio e como tal foi com muito agrado que aceitamos este convite”.
No que concerne à posição da APMGF relativamente ao registo único de dados em saúde centrado no utente, António Luz Pereira é claro, destacando que “é essencial para melhorar a prestação e a articulação de cuidados, pois todos os profissionais de saúde responsáveis pela prestação de cuidados ao utente terão acesso a toda a informação de saúde”. Evitando-se “as duplicações de registos, duplicação de intervenções pois em cada momento será possível conhecer o plano de cuidados daquele utente, os seus antecedentes, comorbilidades, resultados exames, medicação instituída ou alergias”.
Neste momento o que existe é “uma possibilidade de consulta dos processos clínicos dos utentes noutras instituições de saúde (o que por estar dependente do sistema de informação dessas instituições nem sempre é possível, existindo zonas do país em que ainda não foi possível garantir essa exequibilidade)”. Esses processos estão muitas vezes dispersos por várias unidades de saúde sem uma real integração dessa informação. “Cada profissional durante a prestação de cuidados tem de consultar várias aplicações e não tem a possibilidade de completar os processos clínicos dos outros serviços com informação desse contacto”, salienta.
“Mas não é pretendida apenas uma agregação de informação das várias plataformas, é necessária uma nova organização dos processos clínicos, com a criação do resumo clínico do utente. Uma nova secção, fulcral no processo clínico, em que possam ser introduzidos os antecedentes pessoais e familiares do utente, diagnósticos, internamentos e cirurgias prévias, resultados analíticos, alergias, medicação crónica e o seu plano de cuidados. Esse resumo clínico do utente tornaria muito mais segura a prestação de cuidados a esse doente. Poderia ser complementado por qualquer médico que consultasse o utente de forma a que a informação fosse sempre a mais atual”, destaca António Luz Pereira.
A abertura do evento está a cargo de Maria do Rosário Zincke, presidente da direção da Plataforma Saúde em Diálogo, Patrícia Adegas, Country Communications & Patient Engagement Head da Novartis e Ema Paulino, presidente da Direção da ANF. A sessão contou ainda com Joaquim Cunha, diretor executivo Health Cluster Portugal.
Além de António Luz Pereira, o painel de discussão foi composto por Luís Goes Pinheiro, presidente do Conselho de Administração dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS), Xavier Barreto, presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), Luís Lourenço, presidente da Secção Regional do Sul e Regiões Autónomas da Ordem dos Farmacêuticos, Tamara Milagre.
O Fórum “Saber mais para Apoiar Melhor” é uma iniciativa promovida pela Plataforma Saúde em Diálogo, em parceria com a Novartis, que pretende afirmar-se como um espaço de discussão e reflexão sobre temas prioritários da agenda da saúde dos cidadãos, com participação das associações das pessoas que vivem com doença, decisores políticos e outros stakeholders da área da saúde.
A atual pressão que se coloca nos Cuidados de Saúde Primários (CSP) em Portugal é um presente envenenado para os seus utentes e profissionais de saúde.