A próstata foi o foco do curso Minimally Invasive Prostate Surgery Course, que teve lugar no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, no Porto, a 24 e 25 de janeiro. Neste âmbito, a iniciativa abordou diversas temáticas, desde as intervenções de terapia focal até atualizações sobre o cancro da próstata, passando pela hiperplasia benigna da próstata (HBP). Do programa constaram ainda sessões onde se discutiram diferentes técnicas e possíveis complicações e espaços de transmissão de cirurgias em direto. Em entrevista ao Jornal Médico, o diretor do serviço de Urologia do Hospital Geral de Santo António, do Centro Hospitalar Universitário do Porto (CHUP), Avelino Fraga, faz um balanço deste evento, salientando o peso do órgão no contexto da Urologia.
JORNAL MÉDICO (JM) | Quais foram os objetivos do evento Minimally Invasive Prostate Surgery Course? Considera que foram alcançados?
AVELINO FRAGA (AF) | Desde 2012 que o Serviço de Urologia do Hospital Geral de Santo António inicia a cada ano, em janeiro, um curso monotemático, prático, com cirurgias ao vivo. Em 2019, focámos o tema “Rim e Suprarrenal”. Neste ano, optámos pelo órgão “Próstata”.
O intuito destes cursos tem sido e continua a ser mostrar a realidade portuguesa um pouco em comparação com o que de melhor se realiza no mundo. O evento tem tido, desde sempre, o suporte da Sociedade Internacional de Urologia (SIU), o que nos permite ter um elevado nível científico e a presença de importantes vultos da Urologia internacional, quer a lecionar o curso, quer a participar ativamente em momentos de live surgery.
Mais uma vez, atingimos completamente o nosso objetivo e superámos o desafio, como pode ser avaliado pela presença de cerca de 200 participantes.
JM | O curso tem como foco a próstata. Qual é o peso deste órgão, no âmbito da Urologia?
AF | A escolha deste ano pelo tema “Próstata” deve-se ao facto de ser um órgão nobre da Urologia e de a última revisão sobre a próstata, no âmbito destes cursos, ter ocorrido já em 2013. Consideramos que é uma temática muito atual e com um elevado peso na especialidade, até porque a patologia prostática e os sintomas urinários baixos representam cerca de 50% da prática clínica em Urologia.
JM | A nível diagnóstico e terapêutico, quais são as novidades no contexto prostático?
AF | Relativamente ao diagnóstico, durante o curso, abordaram-se novidades referentes ao papel dos biomarcadores e da Imagiologia para o diagnóstico do cancro da próstata.
A nível terapêutico, apresentaram-se as últimas novidades no tratamento médico e cirúrgico, quer do cancro da próstata com preservação da qualidade de vida, quer da hiperplasia benigna da próstata com realização de procedimentos minimamente invasivos.
JM | O evento tem como foco intervenções minimamente invasivas e contou com diversas sessões com componente prática muito forte. Destacaria alguma sessão ou um tema específico? Porquê?
AF | Destacaria, em particular, a realização de cirurgia minimamente invasiva do cancro da próstata com preservação dos feixes vasculo-nervosos, na medida em que este conjunto de vasos e nervos enfeixados é responsável pela preservação da ereção sexual.
Gostaria ainda de salientar a cirurgia minimamente invasiva da hiperplasia benigna por esta intervenção ser capaz de reduzir o internamento hospitalar e por haver a possibilidade de a realizar em ambulatório.
JM | Qual é o contributo deste tipo de eventos formativos no contexto da Urologia?
AF | Estes cursos, em Portugal – e tendo em conta a nossa realidade concreta – ajudam de facto a internacionalizar a Urologia portuguesa e a demonstrar, perante grandes vultos da Urologia internacional, a qualidade da Medicina nacional e, em particular, da Urologia, que se encontra ao nível do que de melhor se realiza no mundo da Medicina.
A atual pressão que se coloca nos Cuidados de Saúde Primários (CSP) em Portugal é um presente envenenado para os seus utentes e profissionais de saúde.