JORNAL MÉDICO (JM) | Que valores norteiam a aposta estratégica da Mundipharma na diabetes e como se traduzem na relação da companhia com médicos e doentes?
SOFIA FERREIRA (SF) | Sendo uma companhia que pretende oferecer uma melhoria contínua dos cuidados de saúde em Portugal, trabalhando com o propósito To move Medicine forward e regendo-se por valores que premeiam em primeiro lugar as pessoas, o que importa para nós é focarmo-nos no “porquê” de vendermos determinados medicamentos, em detrimento de outros. Não basta pensar no “que” vendemos. É necessário perceber a razão de os vendermos.
É com esta maneira de estar no mercado que consideramos que devemos atuar como verdadeiros parceiros nas áreas onde estamos presentes e, em concreto na diabetes, não devemos ser apenas promotores de medicamentos.
A campanha “Quando a cabeça não tem juízo” – este ano desenvolvida com a chancela da APDP – foi criada exatamente com este mindset, onde se procura o porquê de se pensar na doença, e o envolvimento de todos os intervenientes que atuam na área, permite-nos dizer que é possível trabalhar em conjunto, mas de forma diferenciada, com todos os parceiros: doentes, profissionais de saúde e sistema de saúde.
JM | O que há, atualmente, nesta área terapêutica, a destacar no pipeline da Mundipharma?
SF | Atualmente, existem múltiplos tratamentos, sendo que as últimas guidelines recomendam que se inicie o tratamento com uma classe de fármacos, os inibidores da SGLT2, que vieram revolucionar a forma como se aborda a doença.
A Mundipharma aparece nesta área com o objetivo de oferecer soluções precisamente nesta classe terapêutica, soluções que pretendem ajudar no controlo da glicémia, mas também atuar eficazmente nas diferentes comorbilidades associadas à diabetes, e por isso lançou, em menos de um ano, dois produtos inovadores.
Num futuro próximo, teremos um alargamento de indicações terapêuticas, que irão permitir tratar todo tipo de doentes portadores de diabetes tipo 2.
JM | Em termos quantitativos, que peso têm os antidiabéticos nas vendas da Mundipharma Portugal?
SF | Apesar de a Mundipharma ter iniciado a sua atividade apenas há três anos, na área respiratória e com apenas um produto, atualmente promovemos produtos em três áreas terapêuticas distintas: respiratória, metabólica e dor. Em apenas um ano a atuar na área da diabetes, lançámos dois produtos, e neste momento esta área representa já cerca de 37% do total do nosso negócio, e estimamos que se torne a área mais importante para a companhia, já no próximo ano.
JM | Quais prevê que sejam, numa perspetiva nacional e em termos globais, as tendências do mercado farmacêutico a curto/médio prazo nesta área terapêutica específica?
SF | A diabetes é considerada uma epidemia mundial, atingindo já mais de 425 milhões de pessoas em todo o mundo e estima-se que duplique nos próximos 20 anos. Em Portugal, estima-se que a doença afete cerca de 13,3 % da população, representando as despesas nesta área cerca de 1% do PIB. Por outro lado, a diabetes é muito mais do que uma doença associada ao descontrolo da glicemia, já que a maioria dos doentes portadores de diabetes tipo 2 tem uma série de outras patologias associadas, como obesidade, doenças cardiovasculares e renais. Neste contexto, em que estamos perante uma doença com múltiplos riscos associados, onde a cada 10 segundos uma pessoa morre devido a uma complicação da diabetes, urge lançar soluções inovadoras que permitam tratar esta doença no seu todo.
O futuro passará, não só por desenvolver terapêuticas que permitam este “tratamento holístico”, mas também por identificar precocemente fatores de risco de forma a fazer um diagnostico correto e atempado. Daí a importância de realizar campanhas de sensibilização para a doença. A Mundipharma aparece nesta área com o objetivo de oferecer soluções terapêuticas, no entanto consideramos que devemos fazer mais, porque queremos efetivamente contribuir para que se construa um melhor sistema de saúde. Por isso, estamos a desenvolver parcerias estratégicas, entre as quais destacamos a que conduziu ao desenvolvimento de uma solução de inteligência artificial (IA) para diabetes: a World Artificial Intelligence for Diabetes (W.AI-DI). Esta ferramenta auxilia a tomada de decisão dos profissionais de saúde, fornecendo o acesso a informações médicas em função da condição dos seus doentes.
JM | Enquanto responsável de uma farmacêutica com um forte enfoque na diabetes, gostaria de deixar uma palavra aos médicos que lidam diariamente com este flagelo?
SF | Neste momento, a diabetes tipo 2 é, sem dúvida, a epidemia do século XXI, prevendo-se que em 2040 atinga cerca de 642 milhões de habitantes em todo o mundo, por isso é imperativo que se atue de forma correta e o mais precocemente possível, através de terapêuticas adequadas, alterações estilos de vida, mas também acompanhamento dos doentes.
É importante que esta doença esteja presente na mente dos médicos de forma a fazer-se um diagnostico adequado, pois dos 13,3% portugueses que se estima que têm diabetes, quase metade não tem a doença diagnosticada.
Por outro lado, torna-se imperativo que se pense no tratamento da doença a longo prazo e nas poupanças que um tratamento adequado e levado a cabo precocemente, pode ter no aumento da esperança de vida doente e que se deixe de pensar apenas nas soluções com custos mais baixos que resolvem apenas o descontrolo da glicemia, no curto prazo.
A atual pressão que se coloca nos Cuidados de Saúde Primários (CSP) em Portugal é um presente envenenado para os seus utentes e profissionais de saúde.