No âmbito das Novidades em Dermatologia, um dos mais prestigiados dermatologistas na área da tecnologia laser a nível internacional, Pablo Boixeda, aponta ao nosso jornal as tendências futuras da especialidade, com enfoque na Aparatologia Estética, a área clínica que melhor conhece e que mais o apaixona. As oportunidades e ameaças do advento da inteligência artificial no âmbito da Dermatologia não passam despercebidas ao especialista espanhol, que acredita que esta “revolução” já começou.
JORNAL MÉDICO (JM) | Quais as principais novidades a destacar, nomeadamente ao nível da Dermatologia Cosmética e da Dermatologia Cirúrgica, no último ano?
PABLO BOIXEDA (PB) | Nos últimos meses, foram apresentadas muitas novidades, que vão desde melhorias ao nível dos tratamentos com botox até à evolução das abordagens cirúrgicas.
Igualmente na vanguarda permanece a Aparatologia Estética (onde se enquadram os lasers), área que melhor conheço e mais me entusiasma. Houve novidades recentes ao nível dos equipamentos, tanto de radiofrequência, como nos lasers e em outras tecnologias.
Dada a nossa vasta e longa experiência com a utilização de lasers, neste último ano continuámos a avançar na combinação de tratamentos e no uso combinado de diferentes tipos de laser na mesma sessão. Na prática clínica temos vido a comprovar que, no tratamento de lesões pigmentares e sobretudo vasculares, a combinação de técnicas tradicionais (como o laser de corante pulsado (LCP) e o Nd:YAG) com lasers mais avançados (como o de picossegundos), torna o tratamento mais eficaz, minimiza os efeitos secundários e praticamente reduz a zero o tempo de downtime para o doente.
Alargámos a nossa experiência neste campo, aliando os tratamentos com a plataforma vascular Cyngery, da Cynosure, à utilização do laser de picossegundos (PicoSure) e os nossos resultados estão plasmados em estudos que avaliam esta prática.
Cada vez mais, os doentes exigem tratamentos mais confortáveis e, sobretudo, que não impliquem uma alteração da sua rotina habitual. A indústria há muito que identificou esta necessidade, pelo que não será por acaso que os lasers mais recentes sejam, a meu ver, os mais seguros. Percebe-se, assim, que o futuro passa por reduzir ao máximo os efeitos adversos e aumentar a segurança do doente e do dermatologista.
JM | Qual o estado da arte no que concerne à Dermatologia Estética?
PB | As perspetivas da especialidade são excelentes, com grandes avanços, tanto nos tratamentos mais profundos para o tightening (ultrassons, radiofrequência ou novos tipos de lasers), como nos tratamentos mais superficiais (diferentes tipos de laser pigmentário, terapia fotodinâmica, entre outras).
Gostaria de destacar a administração de fármacos via lasers fracionados, um campo em exponencial evolução.
No que concerne aos equipamentos de luz, os lasers de picossegundos trouxeram mais experiência à prática clínica, tanto no que se refere às lesões pigmentares e às tatuagens, como no que diz respeito dos rejuvenescimentos não ablativos, não tão agressivos.
Surgem agora novas indicações, como a revitalização da pele, que implicam efeitos semelhantes, conseguidos em várias sessões, mas minimizando quase até à inexistência os efeitos adversos.
JM | Como vê o futuro da especialidade, a curto/médio prazo, tendo em conta tendências emergentes como a revolução tecnológica/digital e a inteligência artificial?
PB | Com o advento da inteligência artificial (IA), nomeadamente da big data, vai, muito seguramente, haver uma revolução. Atualmente, as redes neuronais – sobretudo as redes neuronais convolucionais (CNN) – já diagnosticam lesões pigmentares melhor que o dermatologista. Este é um campo da IA que vai certamente condicionar e alterar o foco diagnóstico e terapêutico na nossa especialidade.
Além disso, a nanotecnologia ganhará força no domínio da Dermatologia, permitindo a realização de tratamentos mais seletivos e com menos efeitos secundários. Por outro lado, tem-se assistido a uma panóplia de evoluções tecnológicas nos mais diversos domínios, como novas longitudes de onda no que concerne aos tratamentos com base em luz, bem como novos alvos terapêuticos e novas abordagens.
JM | Gostaria de endereçar uma mensagem aos colegas portugueses?
PB | A mensagem que gostaria de deixar é a de que, antes de tratar o que quer que seja, o profissional deve selecionar muito bem os casos e assegurar-se que o diagnóstico feito é o correto.
Igualmente crucial é informar o doente sobre as expetativas face a determinado tratamento, para que a possibilidade de satisfação deste com o mesmo a maior possível.
Diria ainda que é fulcral que o médico se rodeie da melhor tecnologia disponível, cujos resultados sejam comprovados por estudos e por evidência clínica sólida.
Resumindo, deixaria aos colegas portugueses uma mensagem que assenta na importância de um bom foco diagnóstico, da melhor tecnologia e de dedicação.
A atual pressão que se coloca nos Cuidados de Saúde Primários (CSP) em Portugal é um presente envenenado para os seus utentes e profissionais de saúde.