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Daniel Guedelha: "A conferência INOFARMA destaca-se desde já pela forma orgânica como surgiu"
DATA
08/11/2019 10:38:52
AUTOR
Jornal Médico
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Daniel Guedelha: "A conferência INOFARMA destaca-se desde já pela forma orgânica como surgiu"

A INOFARMA tem como principal objetivo gerar uma discussão saudável sobre as oportunidades estratégicas e tecnológicas para posicionar Portugal como centro de excelência europeu, na área da saúde – o evento acontecerá no dia 14 de novembro, no Knowledge Center da NOVA School of Business and Economics. O Jornal Médico falou com um dos organizadores do evento e autor da análise estratégica Pharmaceutical Cluster in Portugal publicada em 2018, Daniel Guedelha, sobre a criação da INOFARMA e a chegada das tecnologias de saúde ao SNS.

JORNAL MÉDICO (JM) | Como surgiu a ideia de criar a INOFARMA?

DANIEL GUEDELHA (DG) | A INOFARMA tem como origem a ideia de "dar de volta a Portugal". Eu e o André Correia somos amigos,  vivemos há mais de uma década fora de Portugal e trabalhamos em áreas ligadas à saúde e novas tecnologias, publicámos estudos relevantes nestas áreas. Com estes trabalhos a complementarem-se, várias ideias começaram a ganhar forma até que, em Abril de 2018, surgiu a ideia de organizar um evento em Portugal que discutisse a importância do Digital Health e debatesse o papel de Portugal como um centro de excelência na Europa nesta área.

Houve então a necessidade de criar uma equipa forte e experiente composta pela Mafalda Rente, Sónia Crujo e João Tiago Fernandes. Igualmente fundamental para o sucesso da INOFARMA, foi a composição do Advisory Board, constituído pela Margarida Bajanca, Luís Rocha, Pedro Pita Barros e Diogo Moreira-Rato.

 

JM | Como é que esta conferência se poderá destacar de outras que existem no setor da saúde?

DG | A conferência INOFARMA destaca-se desde já pela forma orgânica como surgiu: a vontade de retribuir a Portugal e de contribuir com um debate desafiante e construtivo sobre a saúde e o uso das tecnologias em Portugal. Num passo inovador, a plateia, composta por líderes de opinião de instituições públicas e privadas e representantes da sociedade civil, terá oportunidade de participar e intervir na discussão. As propostas e recomendações recolhidas na conferência serão posteriormente compiladas num white paper, garantindo-se assim, um impacto duradouro da conferência e que, de uma forma tangível, permita a continuação do diálogo iniciado na conferência, entre os diferentes stakeholders do ecossistema da saúde.

É de salientar também a excelência dos oradores e a ampla abrangência temática dos painéis que irão explorar o impacto na educação, analisar o papel das startups, perceber como está o setor a abraçar a inovação, e finalmente, debater como pode Portugal afirmar-se no contexto europeu.

 

JM | Como é que na sua ótica a indústria propõe fazer chegar a tecnologia aos médicos?

DG | A “entrada” da tecnologia na área da saúde tem sido impulsionada não apenas pela indústria farmacêutica, mas também (e talvez sobretudo) por empresas de base tecnológica. Hoje em dia é possível observar uma intensa atividade de colaborações/fusões entre empresas de base tecnológica e os diversos intervenientes da área da saúde. Por outro lado, devemos lembrar que o cidadão - todos nós - tem cada vez mais e melhor acesso à tecnologia, está cada vez mais proficiente no seu uso e, quer ver esta realidade refletida nos seus cuidados de saúde. Esta pressão leva a uma maior agilidade e rapidez na entrega de soluções de caráter tecnológico. É esta simbiose que irá permitir que a tecnologia seja uma ferramenta cada vez mais útil para os médicos e todos os profissionais de saúde. É igualmente importante referir que a tecnologia pode ser vista como um complemento a estes profissionais e não necessariamente como um substituto.

 

JM | De que maneira seria feita a ponte?

DG | A ponte deve ser feita através do diálogo entre os diferentes intervenientes no sector da saúde; desde o paciente, aos profissionais de saúde, passando por reguladores e a indústria. As empresas de base puramente tecnológica e a própria engenharia assumem aqui um papel cada vez mais importante. Vamos assistir cada vez mais a cientistas de dados a fazerem parte das equipas médicas, pois a informação será a chave para qualquer diagnóstico ou para a intervenção médica. Na INOFARMA também será debatido o tema “Como Estamos a Preparar os Profissionais da Saúde Para a Era Digital?”. Para além da Ordem dos Médicos  (Alexandre Valentim Lourenço) teremos representado o director de uma universidade de engenharia (Arlindo Oliveira), de uma universidade de medicina (Nuno Sousa) e de uma universidade de economia (Pedro Pita Barros). 

 

JM |  Quando é que o SNS e os doentes poderiam beneficiar deste maior envolvimento da tecnologia no dia-a-dia da profissão médica?

DG | Isto já está a acontecer. Já temos alguns hospitais a realizar tele-consultas, já temos diagnósticos a serem feitos por algoritmos, já temos a monitorização de dados a ser feita remotamente. Mas ainda estamos numa fase inicial e o impacto no sistema de saúde ainda é relativamente baixo.  Acima de tudo, é importante sabermos o que queremos fazer com a tecnologia, ou seja, qual o “problema que queremos resolver” e “para que queremos a digitalização?”. O exemplo da tele-saúde, que estará também bastante representada na conferência INOFARMA, é extremamente interessante. É uma área em franca expansão, que possibilitará a prestação de cuidados de saúde, entre outras situações, a populações rurais que, de outra forma, teriam de se deslocar largas dezenas de quilómetros para serem vistas por um médico.

O SNS aparenta estar a enfrentar diversos desafios dada a crescente procura, o que é muito evidente nas longas listas de espera. Muitos dos doentes não são encaminhados para as unidades corretas (veja-se o caso das urgências). As novas tecnologias podem dar um grande contributo para evitar este estrangulamento do sistema e assim permitir um impacto positivo.

Este debate também será feito na INOFARMA, sobretudo no último bloco que abordará o tema “Como Tornar Portugal um Centro de Excelência Europeu de Digital Health?”.

 

JM | Economicamente seria sustentável?

DG | A questão económica deve ser sempre olhada num horizonte temporal alargado. Se seria economicamente sustentável para uma legislatura? Talvez não. De uma forma geral seria necessário um maior investimento inicial em áreas como integração dos sistemas, existência de uma base de dados nacional (nota importante: segura), entre outros investimentos relevantes em infraestruturas. Contudo, este esforço financeiro tem de ser feito agora para que sejam colhidos os frutos no futuro. Será que o SNS está preparado para o fazer? Talvez não nesta escala. É por isso fundamental encontrar mecanismos inovadores que permitam esse investimento inicial. Durante a INOFARMA iremos debater este tema e quais as soluções que podem ser trabalhadas juntamente com os vários stakeholders da área da saúde.

E repare-se que a digital health não tem fronteiras físicas. É de extrema importância garantir a segurança de dados dos doentes, mas se não houver uma aposta na transformação digital do SNS, o doente começará a recorrer a outros sistemas de saúdes europeus sem sair de sua casa.

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Editorial | Joana Torres
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