Ana Serrão Neto: “Sensibilidade clínica e sinais de alarme são fundamentais para diagnóstico e instituição terapêutica precoces"
DATA
23/04/2019 11:05:54
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Jornal Médico
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Ana Serrão Neto: “Sensibilidade clínica e sinais de alarme são fundamentais para diagnóstico e instituição terapêutica precoces"

O Jornal Médico assinala o Dia Mundial da Meningite com a entrevista à coordenadora de Pediatria e Neonatologia do Hospital CUF Descobertas, Ana Neto, que acredita nas mais valias do diagnóstico precoce e da vacinação como método preventivo, sem nunca deixar de parte a importância da sensibilidade clínica.

JORNAL MÉDICO (JM) | Quais os principais desafios diagnósticos e terapêuticos no contexto da infeção por meningococo?

ANA NETO (AN) | O principal desafio é fazer o diagnóstico o mais precocemente possível. Tanto a sepsis como a meningite bacteriana têm, de início, sintomas inespecíficos, comuns a outras doenças vulgares e benignas, mas podem ter uma evolução galopante. Por isso, o grau de suspeita clínica é muito importante, porque quanto mais cedo se diagnosticar e iniciar a terapêutica antibiótica, e outras medidas coadjuvantes, mais hipóteses teremos de conseguir debelar a doença. Felizmente, estas formas de sepsis e meningite são hoje mais raras graças às novas vacinas anti meningococo.

 

JM | A rapidez na identificação do agente infecioso, mas também na introdução da terapêutica mais adequada, pode efetivamente fazer a diferença entre vida e morte e na prevenção de sequelas graves, no caso da meningite?

AN | Volto a referir que o mais importante é o médico suspeitar da doença. A sensibilidade clínica, os sinais de alarme são fundamentais para o diagnóstico precoce e instituir o tratamento também precoce. Mesmo no século XXI a clínica comanda todas as decisões médicas. Depois há que ter alguma sorte, pois alguns meningococos são menos agressivos que outros.

 

JM | Que impacto tem a utilização destas técnicas rápidas pela Patologia Clínica na prática clínica do especialista em Pediatria? (exemplos da sua prática clínica, se tiver)

AN | As modernas técnicas de patologia clínica são uma grande mais valia, uma grande ajuda para o clínico. Uma das mais úteis na urgência pediátrica, no diagnóstico etiológico de doenças agudas infeciosas, é a técnica de PCR em tempo real, que permite identificar bactérias que dificilmente crescem em meio de cultura.

Exemplificando, o diagnóstico de bronquiolite é clínico, mas a sua etiologia tanto pode ser viral como bacteriana. Num bebé de 2 meses, uma bronquiolite com tosse acessual pode ser viral ou causada por uma Bordetela pertussis. Neste caso, a PCR ajuda-nos, em tempo real, a decidir prescrever, ou não, um antibiótico.  

Outra situação, mais rara, mas também mais grave, é a meningoencefalite, em que a PCR para o Herpes permite ao clínico obter, ou excluir, um diagnóstico etiológico importante e que implica medidas terapêuticas específicas.

Já nas situações de pneumonia bacteriana, continuamos a regularmo-nos pela clínica e padrão radiológico.

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Editorial | Joana Torres
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