A ideia de que a vacina contra a gripe está associada a efeitos secundários ou que induz a doença é um dos motivos que leva os grupos alvo da vacinação a não se imunizarem, segundo um estudo ontem apresentado.
O trabalho ainda preliminar foi conduzido pelo Instituto Nacional de Saúde (INSA) através de inquéritos feitos a cerca de mil famílias portuguesas, tendo como alvo as pessoas com mais de 65 anos e os doentes crónicos, os grupos a quem é altamente recomendada a vacinação e para quem a vacina é gratuita nos centros de saúde.
Segundo Baltazar Nunes, do INSA, muitas pessoas alegam que quando tomaram a vacina tiveram gripe ou desenvolveram uma gripe mais forte. Contudo, o especialista explicou à Lusa que não há qualquer descrição de uma relação causa-efeito entre a toma da vacina e o desenvolvimento da gripe.
“Durante o período da vacinação há mais incidência de outros vírus respiratórios. O que pode acontecer é que as pessoas desenvolvam uma constipação ou uma infecção respiratória provocada por outro agente e que pode ter uma sintomatologia próxima da gripe. Mas isso não tem relação com a vacina”, referiu.
As conclusões do trabalho desenvolvido por Baltazar Nunes e por Ana João Santos indicam ainda que a não toma da vacina está também associada a uma noção de que se é pouco susceptível à gripe. “Acham que são saudáveis e não desenvolvem a doença ou que se a desenvolvem não é grave”, sintetizou Baltazar Nunes.
Outro dos três factores principais apontados para não se vacinarem é a dificuldade em aceder ao médico de família.
Perante estes resultados preliminares, Baltazar Nunes considera que é importante “realizar mais campanhas de informação e sensibilização para a importância da vacinação contra a gripe”.
O especialista lembrou que os grupos alvo definidos pela Direcção-geral da Saúde estão em risco de desenvolver mais complicações associadas à doença, podendo mesmo registar “consequências graves”.
O INSA realizou ontem uma reunião sobre “Vigilância Epidemiológica da Gripe em Portugal”, em que se analisaram os resultados da vigilância da época gripal passada.
Segundo Raquel Guiomar, especialista do Instituto, a época passada foi considerada “moderada”, com o período epidémico a centrar-se nos meses de Janeiro e Fevereiro de 2014, o que é considerado “mais tardio do que o habitual”.
Não foram verificados excessos de mortes relacionados com a gripe e a maior percentagem de casos da infecção registaram-se em jovens e adultos entre os 15 e os 44 anos.
Quanto aos internamentos e admissões nos cuidados intensivos por gripe, 72% dos doentes tinham doença crónica, mas apenas 3,8% se tinha vacinado.
Segundo Raquel Guiomar, relativamente à época gripal deste ano, Portugal mantém-se ao dia de hoje sem qualquer caso de gripe sazonal, enquanto na Europa já se registaram alguns casos mas “muito reduzidos e esporádicos”.
Apesar de o tempo seco e frio proporcionar condições para a transmissão do vírus entre as pessoas, a especialista lembra que não é o único factor.
Adiantou também que é “imprevisível” se a época gripal deste ano vai ser forte ou moderada, mas aconselhou os portugueses que se enquadram nos grupos indicados pelas autoridades a levarem a vacina.
Hospital de São João
O treino de profissionais para as manobras necessárias e a utilização devida do equipamento de protecção fazem parte do plano de contingência que o Hospital de São João, no Porto, elaborou para responder a casos de Ébola.
Carlos Alves, infecciologista e coordenador da Unidade de Prevenção e Controlo de Infecção do Hospital de São João, disse à Lusa que o facto da Organização Mundial de Saúde (OMS) ter hoje decretado o estado de emergência mundial de saúde pública não obriga a alterações dos procedimentos daquela unidade hospitalar.
“O nosso plano estava estabelecido, continua com os mesmos parâmetros para responder a casos suspeitos ou de doença”, disse o infecciologista de um dos três hospitais de referência em Portugal. Os outros dois são o Curry Cabral e o Dona Estefânia, em Lisboa.
Desde Março que o hospital tem vindo a preparar-se para responder a uma eventual procura de casos suspeitos ou de doença, tendo adquirido para tal algum material de protecção.
Ao nível dos recursos humanos, Carlos Alves disse estar previsto o aumento do número de profissionais ou o desvio para os sectores mais necessários, sempre que tal for preciso, mas garantindo “a sua segurança”.
Para o infecciologista, a declaração de estado de emergência mundial de saúde pública pela OMS significa que quem está no terreno vai dando indicações de que há a probabilidade dos casos aumentarem.
Carlos Alves considera que o Hospital de São João está preparado para responder a eventuais casos suspeitos ou de doença pelo vírus do Ébola, nomeadamente ao nível do tratamento de suporte que pode ser oferecido a estes doentes e que pode “fazer a diferença entre a vida e a morte”. “Infelizmente não há um medicamento específico para a doença”, disse.
Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge
O presidente do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA) garante o laboratório de referência em Portugal está em estado de “prontidão permanente” e com capacidade para responder aos despistes do vírus do Ébola que os hospitais solicitarem.
Fernando Almeida disse à Lusa que o facto da Organização Mundial de Saúde (OMS) ter decretado o estado de emergência mundial em saúde pública não vai, para já, levar a alterações nos procedimentos do INSA.
“Estamos perfeitamente organizados e em estado de prontidão, 24 sobre 24 horas”, disse Fernando Almeida, recordando a resposta que o instituto tem dado em outros surtos, como o dengue, o vírus de Marburg (Ébola) ou o da gripe.
Aos laboratórios do INSA chegarão as colheitas para analisar a presença, ou não, do vírus do Ébola.
Segundo Fernando Almeida, este instituto tem um plano de contingência, no qual está previsto, sempre que necessário, o reforço de meios humanos e de equipamentos (como reagentes).
Para já, a única coisa que se prevê aumentar nos próximos tempos são os contactos com instituições como a Direcção-Geral da Saúde ou o Ministério da Saúde, disse.
Direção-Geral de Saúde
A Direção-Geral de Saúde vai divulgar hoje à tarde uma posição concertada com os parceiros europeus sobre a declaração do estado de emergência mundial de saúde pública.
Um estudo sobre a violência revela que 12,3% da população portuguesa, com 60 ou mais anos - cerca de 314 mil pessoas -, foram vítima de, pelo menos, uma "conduta de violência" por parte de um familiar, amigo, vizinho ou profissional.
O "Estudo populacional sobre a violência", baseado numa amostra de 1.123 pessoas, faz parte do Projecto Envelhecimento e Violência 2011-2014, do Departamento de Epidemiologia do Instituto Nacional Dr. Ricardo Jorge (INSA), cujos resultados estão a ser divulgados e debatidos hoje, no seminário "Envelhecimento e Violência", que está a decorrer na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
Este estudo teve como objectivo estimar a prevalência de pessoas com 60 e mais anos na população portuguesa sujeita a violência (física, psicológica, financeira, sexual e negligência), em contexto familiar, nos 12 meses anteriores à entrevista, assim como reconstituir a lógica e as condições de ocorrência de tais situações no contexto da vida familiar.
O número de vítimas de violência foi estimado com base num inquérito telefónico aplicado à população portuguesa com 60 e mais anos.
Para aprofundar o conhecimento constituiu-se paralelamente uma amostra de vítimas de crime e violência com 60 e mais anos, que foram sinalizadas pelas entidades parceiras.
"Estimou-se que 123 em 1000 pessoas com 60 e mais foi vítima de alguma forma de violência (física, psicológica, financeira, sexual ou negligência)", referem as principais conclusões do estudo coordenado pelo Departamento de Epidemiologia do INSA, a que a agência Lusa teve acesso.
Dos cinco tipos de violência avaliados (física, psicológica, financeira, sexual ou negligência), destacam-se a violência financeira e a violência psicológica: 6,3% da população com 60 e mais anos (cerca de 160 mil pessoas), em ambos os casos, dizem ter sido vítima de, pelo menos, uma conduta destes tipos de violência.
Já 2,3% dos inquiridos (58 mil pessoas) foram vítima de, pelo menos, uma conduta de violência física.
Os crimes menos frequentes foram a negligência (0,4% da população com mais de 60 anos) e a violência sexual (0,2% ).
O projecto identificou diferentes agressores, de acordo com os tipos de violência.
Na violência financeira, os principais agressores foram os descendentes, nos quais se incluem filhos, enteados e netos, seguidos dos outros familiares, como cunhados, irmãos e sobrinhos.
São também outros familiares os principais agressores reportados pela vítimas de violência psicológica, seguidos dos cônjuges e de atuais e ex-companheiros.
Mais de metade das condutas de violência física foram da responsabilidade de cônjuges e de atuais ou ex-companheiros.
O estudo adianta que, do total de vítimas, somente um terço denunciou ou apresentou queixa sobre a situação de violência vivida e, quando procurou ajuda, a maioria dirigiu-se às forças de segurança (PSP ou GNR).
Embora com menor frequência, as vítimas também denunciaram a sua situação de vitimização a elementos da rede social informal (familiares, amigos, vizinhos e colegas de trabalho) e a profissionais de saúde.
O projecto Envelhecimento e Violência 2011-2014, do Departamento de Epidemiologia do Instituto Nacional Dr. Ricardo Jorge, compreendeu ainda outro estudo sobre violência, também em contexto familiar.
Os dois estudos "são indicativos da relevância que o problema tem na sociedade portuguesa e os resultados demonstram que as vítimas de violência que residem na comunidade são sobretudo vítimas das famílias, seja alargada ou nuclear", refere o projecto.
O Projecto tem como entidades parceiras o Centro de Estudos de Sociologia da Universidade Nova de Lisboa, com Instituto Nacional de Medicina Legal, a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, o Instituto da Segurança Social e a GNR.
A actividade gripal em Portugal na última semana foi moderada, com tendência decrescente, segundo o boletim de vigilância epidemiológica divulgado pelo Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA).
Na semana de 10 a 16 de Fevereiro, a taxa de incidência da síndroma gripal foi de 45,6 casos por cada 100 mil habitantes, abaixo da taxa de 64,2 detectada na semana anterior.
Segundo o boletim do INSA, na última semana analisada apenas foram reportados dois novos casos de admissão por gripe nas unidades de cuidados intensivos dos 16 hospitais portugueses que contribuem com informação para esta vigilância epidemiológica.
Estes dois doentes não tinham sido vacinados contra a gripe e ambos tinham uma doença crónica associada.
Desde o início da actual época gripal, em Outubro do ano passado, foram reportados 89 casos de gripe nos doentes admitidos em cuidados intensivos e apenas 1,1% desses pacientes tinham sido vacinados.
A atual pressão que se coloca nos Cuidados de Saúde Primários (CSP) em Portugal é um presente envenenado para os seus utentes e profissionais de saúde.