Um estudo desenvolvido pela Sociedade Portuguesa de Cefaleias (SPC) em conjunto com a MiGRA Portugal – Associação de Doentes com Enxaqueca e Cefaleias e com o centro de cefaleias do Hospital da Luz, concluiu que as cefaleias aumentaram após o uso de equipamentos de proteção individual (EPI), em Portugal.
O objetivo do estudo era avaliar o impacto da utilização de equipamentos de proteção individual (EPI) no aumento de crises de cefaleias na população portuguesa. Este inquérito revelou que 56% dos inquiridos desenvolveu cefaleias após o uso prolongado destes equipamentos de proteção e que quase 90% atribui o início destas crises a este fator, conforme comunicado enviado.
A neurologista da Associação de Doentes com Enxaqueca e Cefaleias, Raquel Gil Gouveia, revela que a decisão de realizar o inquérito teve que ver com o aumento do número de queixas por parte de doentes que já tinham crises de cefaleias, mas também de doentes que desenvolveram estas crises apenas devido ao uso de EPI. “Estas cefaleias foram descritas maioritariamente como bilaterais, tipo pressão, mais frequentemente afetando a testa e as regiões de aplicação dos EPIs na zona cefálica (peri-ocular, nuca, vértex, atrás das orelhas)”, justifica. A neurologista destaca o teletrabalho como uma opção para reduzir o impacto das medidas de proteção individual na população.
“Este estudo vem ajudar-nos a mostrar que este impacto é real e, por isso, apelamos a todos, mas em especial às entidades patronais e familiares dos doentes, que tenham uma maior compreensão para com os doentes. Sugerimos evitar situações que necessitem da utilização de máscara por períodos prolongados, por exemplo recorrendo ao teletrabalho sempre que possível e evitando a permanência em espaços comerciais”, reforça a presidente da MiGRA Portugal, Madalena Plácido. Afirma igualmente que a hidratação é muito importante para evitar algumas crises.
Neste estudo verificou-se que 72% já tinha história de cefaleia regular, 62% com critérios de enxaqueca. Dentro desta população, mais de 90% dos doentes afirmou que as crises agravaram, o que demonstra o real impacto do uso de EPI nesta população. Dentro destes resultados cerca de 97% dos doentes tiveram um aumento da frequência de crises, 95% um aumento da duração e/ou intensidade e ainda 92% registaram uma pior resposta à terapêutica.
O estudo contou com 5064 participantes, dos quais 90,6% mulheres, e idade média de 37 anos. Todos os distritos de Portugal tiveram representação, com destaque para Lisboa, Porto e Setúbal, com 20% dos participantes a trabalhar na área da saúde.
A doença afeta cerca de um milhão e meio de portugueses e provoca uma dor incapacitante que pode ter outros sintomas associados.
A atual pressão que se coloca nos Cuidados de Saúde Primários (CSP) em Portugal é um presente envenenado para os seus utentes e profissionais de saúde.