A diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, revelou que foram registados mais de 500 mortos entre o domingo e terça-feira, salientando que é preciso apurar as causas dos óbitos.
“Temos de ser cautelosos a analisar os dados e o impacto da mortalidade e cautelosos a comprar-nos com outros países que utilizam metodologias diferentes”, disse Graças Freitas, a propósito do balanço sobre a resposta operacional durante a vaga de calor que afetou Portugal nos últimos dias.
Analisando o impacto do calor e da mortalidade nos dias 5, 6 e 7 de agosto, a diretora-geral da Saúde adiantou que “houve uma variação diária no conjunto de mais de 500 óbitos registados”.
“Mas isto é uma análise muito bruta, o que quer dizer que temos de analisar as quinzenas por corredores de probabilidades de ocorrência de morte”, afirmou a responsável, acrescentando que é preciso estudar as mortes esperadas numa determinada quinzena e aquelas que de facto se observam.
Segundo Graça Freitas, “muitas vezes há picos” com as pessoas que estavam mal e que morreram durante a onda de calor. “Obviamente que nas semanas seguintes a mortalidade desce”, frisou, esclarecendo que, no caso de Portugal, se contabiliza “o impacto na mortalidade geral por todas as causas”.
No século XXI houve três fenómenos de temperaturas extremas adversas: em 2003, 2013 e 2018, disse a diretora-geral da Saúde, explicando que devido às variações nas datas em que acontecem, às vezes, não se pode “comparar exatamente o período homólogo do calendário, porque as temperaturas não seguem sempre o calendário”.
Desta forma, “recorremos a um método de fazer médias, a partir de maio, da mortalidade diária e esse é o nosso primeiro indicador, quantas pessoas estão a morrer em relação a cada um dos dias”, frisou.
Graça Freitas ressalvou, também, que as respostas na área da Saúde atuais variam muito das do século XX, porque os mecanismos e a capacidade de mobilizar recursos, de trabalhar em rede, ativar serviços e cuidados complementares “é muitíssimo maior”.
Já sobre o aumento da procura pelos cuidados de saúde, durante a onda de calor, a responsável referiu que o maior impacto verificou-se a partir de sábado.
“O centro de contacto SNS 24 tem tido um aumento moderado, que, neste momento, é de cerca de mais de mil chamadas por dia”, já o INEM teve “um aumento moderado, que depois passou a mais intenso, [atingindo] mais 5.000 contactos do que é habitual”, revelou.
Segundo a responsável, o serviço de urgência apresentou no domingo, segunda e terça-feira mais sete mil episódios do que o habitual. Trata-se de "um bom indicador é que não houve um aumento dos internamentos”, o que quer dizer que muitos dos utentes “terão sido tratados e hidratados sem necessidade de internamento”.
A atual pressão que se coloca nos Cuidados de Saúde Primários (CSP) em Portugal é um presente envenenado para os seus utentes e profissionais de saúde.